Um ano após deixar a Terra Indígena Raposa Serra do Sol em Roraima, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), grandes produtores de arroz estão arrendando terras e importando o grão de outros estados para manter a produção.
A área de plantio de arroz foi reduzida à metade, de acordo com a Associação dos Arrozeiros de Roraima, e o grupo ainda luta para reorganizar a produção. Nenhum grande produtor foi realocado até agora. “Foi um ano de prejuízo: financeiro, moral e psicológico”, resume a rizicultora Regina Barilli.
Marido de Regina, Ivo Barilli, que produzia em uma área de 1,6 mil hectares dentro da Raposa, com duas safras por ano, agora trabalha com duas lavouras, uma de 300 hectares e outra de 500 hectares. “Deixamos de colher duas safras, quase 300 mil sacas de arroz. As máquinas chegavam a trabalhar 24 horas por dia. O que fizeram conosco foi um descaso”, diz.
A empresa de Barilli deixou de vender arroz para outros estados – só manteve um fornecedor Manaus e está comprando arroz de Mato Grosso para complementar a produção local. O casal ainda aguarda o reassentamento, previsto no decreto que reconheceu a demarcação contínua da reserva para os que deixassem a área, e briga na Justiça para tentar aumentar o preço da indenização oferecida pela Fundação Nacional do Índio (Funai). “Técnicos de fora, que conhecem arroz irrigado, avaliaram nossa propriedade em R$ 8 milhões, a Funai quis pagar R$ 96 mil, é uma vergonha”, compara Regina.
Apesar dos novos custos para a produção, os Barilli não pretendem deixar Roraima e produzir em outro estado, como fez o também rizicultor Paulo César Quartiero, que está de mudança para o Pará. “Tenho esperança de um dia voltar a produzir na Raposa. Nós fomos enxotados. A solução mais digna seria regularizar”, defende Regina.
Presidente da Associação dos Arrozeiros de Roraima, o empresário Nelson Itikawa também afirma ter tido dificuldades para manter a produção. Itikawa arrendou 2,5 mil hectares para plantar arroz – área equivalente à que possuía na Raposa. O arrendamento, segundo o produtor, onerou a produção e diminuiu a capacidade de geração e emprego da empresa. “Hoje trabalho mais para ganhar menos”.
Itikawa é categórico em afirmar que as terras repassadas pela União para Roraima como forma de compensar o estado pela demarcação contínua da Raposa não são suficientes nem servirão para abrigar a produção de arroz. “Essas áreas não existem. E nós sabíamos disso, por isso resistimos tanto em sair de lá. O governo federal nos obrigou a andar na contramão, diminuindo a produção de alimentos e os empregos. É um PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] ao contrário”, comparou.
Na época da retirada dos produtores de arroz da Raposa, surgiu a ideia de transferir as lavouras para a Guiana, que cederia terras aos produtores, mas os planos não avançaram. “Está complicado, isso ia depender de um acordo bilateral entre os dois países”, explica Itikawa.