Marechal Cândido Rondon. Ninguém mais! Pesquisei, consultei amigos e não apareceram outros nomes que pudessem ser considerados heróis ao longo da história da vida pública do país.
Claro que existem aqueles personagens anônimos, que com sua dedicação pessoal, acabam dando exemplos maravilhosos de conduta. É o professor que caminha léguas ou viaja perigosamente de barco para ministrar aulas em troca de salário irrisório; o bombeiro que arrisca a própria vida para ajudar ou salvar o próximo, os abnegados profissionais da área da saúde e assim por diante.
A conduta heróica exige coragem, superação e um desprendimento sem limites para alcançar seu objetivo. O herói é o depositário das esperanças de um povo. Foi assim com Mandela, preso durante 26 anos; com Charles de Gaulle liderando a Resistência Francesa contra os nazistas; Simon Bolívar comandando a libertação de vários países; Anita Garibaldi que saiu da Itália para vir lutar em terras brasileiras, Emiliano Zapatta e Pancho Villa libertando o México e Ho Chi Min que enfrentou as forças invasoras dos Estados Unidos no Vietnã.
Pode até dar impressão de má vontade ou desconhecimento de fatos e personagens que compõem nosso caminhar desde a chegada de Cabral. Verdade é que os dois fatos mais importantes – a Independência e a Proclamação da República – ocorreram mais em função de interesses de bastidores circunstanciais do que propriamente por ações diretas que tivessem provocado clamor popular, luta armada e derramamento de sangue como ocorreram nos episódios semelhantes em outros países. Aliás, quanto a figura de Tiradentes deve ser vista apenas como mártir.
No caso de Rondon, ele faz jus porque promoveu um extraordinário trabalho de integração deste país que só agora é reconhecido. Discreto, jamais perseguiu a fama e glória.
Inegável que hoje a força da mídia tem conseguido elevar ao patamar de heróis personagens de forte apelo popular, notadamente nos esportes. Pelé, Eder Jofre, Ademar da Silva, Fittipaldi, Airton Senna e Guga são exemplos que conseguiram, de alguma forma, encarnar o sentimento ou o orgulho de nosso povo com suas vitórias. Sob esse ângulo, realizaram feitos heróicos.
O registro negativo, na caça aos heróis da nossa vida pública, é que cada vez mais toma conta de nós o sentimento de desilusão quanto às possibilidades do surgimento de personagens deste naipe por razões obvias.
E o pior: se faltam heróis, sobram vilões!
Manoel Afonso escreve a coluna Ampla Visão para o JP | [email protected]