Inicio citando o vice presidente da República José Alencar, lutando contra um câncer havia 11 anos: “Eu não tenho medo da morte. O homem deve ter medo de perder a dignidade, especialmente na vida pública. Quem não a perde, não morre. Não morre para os filhos, os ancestrais, os amigos, os patrícios.”
A postura franca e serena deste bem sucedido empresário aos 77 anos de idade é um exemplo para aqueles que ocupam cargos públicos e fonte de reflexão para a sociedade brasileira. Vivemos época em que valores e conceitos de conduta de grande parte dos nossos homens públicos estão sujeitos a variações, segundo os interesses em jogo.
Não temos conseguido terminar uma semana sem que um novo escândalo envolvendo administradores públicos não venha a público. É o vereador inventando despesas; o prefeito envolvido em corrupção; o diretor da empresa estatal favorecendo amigos; senador não pagando empréstimos e assim por diante.
O “Anão do Orçamento” João Alves, que ganhou mais de 100 vezes na loteria, o Severino (que Lula diz ter sido injustiçado), o Maluf que não reconhece a própria assinatura, o Jader Barbalho com seu ranário e os “Mensaleiros da República Petista” são alguns dos casos conhecidos nacionalmente. Mas em cada município certamente bate forte o coração de algum aprendiz da arte de levar vantagem de modo fácil, mesmo apesar dos riscos.
Nossa cultura latina não é a mesma dos povos sérios do primeiro mundo. Se os japoneses – por exemplo – preferem o suicídio à humilhação pública da prisão, os políticos brasileiros preferem acreditar na impunidade, na falta de memória da opinião pública e no malabarismo de seus advogados. Aliás, que eu me lembre aqui no Brasil, só Getúlio Vargas preferiu a morte ao escárnio, enquanto Zé Dirceu continua posudo e o Collor hoje é Senador. É mole?
Embora não acredite que a pregação do José de Alencar acabe transformando demônios em anjos, entendo válido destacar aqueles que adotam a dignidade em todos os seus atos.
E na vida pública a dignidade ganha visibilidade maior.