Qual a razão pela busca frenética por um mandato eletivo qualquer? A explicação é simples: o mandato é visto como um passaporte, uma chave que abre muitas portas do poder, além de servir como escudo protetor na Justiça.
Muitos passam pela vida sem ter provado ao menos um gole deste “licor” inebriante, mas nem por isso são menos felizes, têm inveja ou se sentem frustrados. Alguns convivem pacificamente com o mandato, não se sentem reféns dele. Outros estabelecem até prazo de validade desta convivência. Caso do deputado Braga, que decidiu não concorrer à reeleição. É apenas questão de princípios, oportunidade, estilo ou filosofia de vida.
A percepção do jornalista é mais apurada e pode estabelecer pontos comuns entre o ego inflado do vereador da pequena cidade e aquele senador – ACM, por exemplo! – que fez do mandato parte integrante de sua personalidade e vida. Se o vereador se sente prestigiado em representar parcela da sua comunidade, imagine então o senador da República!
Olhando no retrovisor da vida pública brasileira vamos deparar com Tancredo Neves, suportando dores e escondendo sua doença ao longo da campanha. Sua postura deveu-se é claro, ao sonho do cargo de Presidente da República. Pagou com a própria vida o apego ao mandato e em conseqüência ao poder.
Nos dias atuais estamos vendo a ministra Dilma tentando viabilizar sua candidatura, em que pese o fantasma da volta do câncer. Ele persegue o mesmo objetivo (mandato) pretendido por Tancredo.
Ora! O mandato gera poder, atrai admiração e ao mesmo tempo em que pode gerar benefícios aos outros, pode também beneficiar mais o próprio mandatário. É aí que reside o perigo de não se adotar parâmetros no exercício deste ou daquele mandato.
Em todas as eleições é possível fazer a leitura de cada pretendente, embora eles – sem exceção – argumentem enxergar no exercício do mandato, a grande chance de contribuir pessoalmente com a administração pública em benefício da comunidade. Que bom se isso fosse verdade!
Mas no arremate do texto sobre o mandato, impossível não lembrar o bíblico “Eclesiastes” ao afirmar “tudo é vaidade”. Com uma ponta de humor e ironia, cito ainda Roberto Correa: “não creio em bruxas e bruxarias, mas que las hay, las hay”. De leve…
Manoel Afonso escreve a coluna Ampla Visão para o JP