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MEIO AMBIENTE

Proibição da Murta é vista como positiva por especialistas

Espécie de Dama da Noite não pode ser cultivada e comercializada em Mato Grosso do Sul

Espécie Murta está proibida em todo o estado de Mato Grosso do Sul - Foto: Reprodução/Leonardo Correa/Biologia da Paisagem
Espécie Murta está proibida em todo o estado de Mato Grosso do Sul - Foto: Reprodução/Leonardo Correa/Biologia da Paisagem

A Murta, planta também conhecida como Dama da Noite, pode interferir negativamente no desempenho da citricultura em Mato Grosso do Sul e foi proibida no estado. Segundo especialistas, a medida veio para garantir a produção de citros no campo.

A planta é conhecida pelo cheiro característico, como explica o botânico da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Flávio Macedo Alves. “A flor dela é muito cheirosa, inclusive ela é chamada de Dama da Noite porque as suas flores abrem ali por volta das 18h, 19h, e, naquele horário, quando você passa numa rua que tem bastante murta, você sente um cheiro bem forte de flor de laranjeira”.

A Murta é uma árvore de pequeno porte e considerada exótica, nativa da Ásia e da Oceania. Ela se popularizou no Brasil pela facilidade de ser usada no paisagismo e na arborização urbana. Em Campo Grande, a espécie representa 5% do total de árvores plantadas em espaços públicos da cidade, conforme dados da prefeitura. 

“Existem outros aspectos a serem considerados, mas do ponto de vista de paisagismo e de arborização urbana, ela é uma boa árvore. É uma espécie muito fácil de fazer mudas. Ela cresce rápido e vai muito bem em baixo da enfiação elétrica, porque é pequena. Tem vários atributos do ponto de vista paisagístico que ela é muito apreciada para ser usada na cidade”.

Mas, como diz o ditado, nem tudo são flores. A murta é hospedeira do inseto Psilídeo, vetor da bactéria que causa a doença do Greening, que já dizimou pomares de citros no interior paulista e também em outros países, como nos Estados unidos. A doença não tem cura e, como prevenção, a Murta deve ser erradicada em regiões produtoras de citros. No estado de São Paulo, o cultivo da planta já é proibido desde 2008, ano em que o estado do Paraná tomou a mesma medida. 

Na última semana, foi sancionada em Mato Grosso do Sul a lei que também proíbe o plantio, o comércio, o transporte e a produção da murta. Agora resta a regulamentação do texto. Na capital, a planta já deixou de ser cultivada em viveiros públicos desde 2017. A Secretaria de Meio Ambiente e Gestão Urbana (Semadur) aguarda pelas definições do Governo do Estado para tratar dos próximos passos com a nova Lei.

“O Governo do Estado deve fazer algum convênio com as prefeituras. Nós, dentro do município de Campo Grande, temos a lei complementar 184, e, nesta lei, a gente só pode fazer a supressão de árvores quando solicitado ou por conta do estado fitossanitário da árvore. Na murta, especificamente, teria que fazer um plano para fazer uma substituição gradativa. Não pode chegar lá e arrancar todas”, diz o Diretor de Arborização da Semadur, Orsival Simões Júnior.

A medida é vista como positiva pelo botânico, Flávio Macedo Alves, desde que haja a substituição das espécies. “É uma espécie exótica, não é uma espécie nativa do Brasil. O que a gente precisa plantar nas ruas são espécies nativas. Com a remoção das murtas da arborização urbana, nós vamos estar resolvendo dois problemas: o problema econômico, que é diminuir a propagação do Greening, doença que pode causar prejuízo na citricultura. E, ao mesmo tempo, nós podemos aproveitar essa situação para, em vez de colocar uma outra espécie exótica, uma outra espécie oriunda de outros continentes, nós escolhermos uma espécie que é nativa do cerrado, nativa de Mato Grosso do Sul”.

A nova lei foi aprovada em meio a um crescimento da citricultura em todo o estado. Em maio deste ano, um grupo paulista que lidera as exportações de laranja no país anunciou investimento de meio bilhão de reais em uma fazenda na divisa entre Sidrolândia e Campo Grande. Devem ser plantados 5 mil hectares da fruta. Três Lagoas também vai receber um empreendimento semelhante e a ideia é que, futuramente, seja instalada uma fábrica de suco de laranja no estado, segundo informações Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).

Para a engenheira agrônoma da Semadesc, Karla Betânia De Nadai, responsável pela citricultura no estado, a nova lei deve atrair ainda mais investimentos desse tipo. “Hoje, a citricultura é uma das atividades com maior custo de investimento. Você fala aí na casa de R$80.000 a R$100.000 por hectare, então um produtor que está disposto a investir esse valor para implantar um pomar, tem que implantar esses pomares onde há segurança sanitária. E hoje o nosso estado, através da nossa legislação sanitária, através da defesa sanitária, ela vem mostrando ser um lugar propício para que esses investidores migrem para cá”.

Escovinha-de-Garrafa é uma das alternativas para substituir a Murta | Foto: Reprodução: Jardim Exótico

E para quem tem a murta em casa, existem espécies que podem substituir a planta. Opções como a Aroeira-Pimenteira, Hibiscus, Cássia-Rosa e Escovinha-de-Garrafa são as mais indicadas.

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