As parcerias entre a Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul) e instituições governamentais com o Batalhão de Polícia Militar Rural (BPMRu) contribuíram de forma expressiva para a queda nos índices de criminalidade no campo.
Dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), apontam que, ao comparar 2024 com 2021, ano que antecedeu o lançamento do Programa Campo Mais Seguro, houve uma redução de 32,6% nos homicídios, de 34,6% nos furtos, de 52,6% nos abigeatos, e os casos de roubo tiveram uma queda de 56,8%.
Cerca de 90 policiais foram capacitados para atuar em operações com drones, por meio de cursos promovidos pelo Senar/MS entre 2022 e 2024. Também houve uma reestruturação do policiamento rural, que passou a contar com um comando único sediado em Campo Grande, o que ampliou a efetividade das ações repressivas e preventivas em 2024.
Crimes ainda ocorrem, mas o apoio dos sindicatos rurais e das entidades representativas do setor primário e da administração pública deve refletir neste ano de 2025 em ações ainda mais efetivas para garantir mais segurança no campo. O comandante do Policiamento Rural, Coronel Cleder Pereira da Silva destaca que, atualmente o estado é um dos poucos no país que possui esse tipo de policiamento especializado no combate ao crime no campo. Hoje, 120 policiais atuam no serviço, distribuídos pelo estado.
Coronel, como o senhor avalia esse quadro atual da segurança no campo em Mato Grosso do Sul?
Coronel Cleder Hoje nós temos uma outra estrutura que foi estabelecida a partir de dezembro de 2023, atendendo a uma demanda da Polícia Militar. Mas o policiamento rural iniciou em 2022. Então, nós pegamos esse período em que nós estamos atuando com uma nova estrutura e verificamos nos números essas reduções. Nós percebemos a redução de diversos tipos de crime, inclusive esse crime de abigeato, que é o furto de gado. Nós temos no estado um rebanho muito grande, aproximadamente dezoito milhões de cabeças. Tem a soja que também aumentaram. As outras culturas têm sua área ampliada. O estado ainda é uma referência no que se refere a pecuária. E os números que nós temos de abigeato, são realmente muito baixos para o número de cabeças de gado que nós temos, mas trabalhamos para reduzir ainda mais esses crimes em Mato Grosso do Sul.
Por que o estado demorou tanto para ter um policiamento especializado em segurança no campo, já que essa é a principal atividade econômica regional?
Coronel Cleder Não vou dizer que que demorou porque o país como um todo, se a gente olhar todas as polícias militares, excluindo Goiás que já tem esse policiamento rural há mais tempo, está dotado de estrutura de referência, mas as outras polícias, estão no início desse tipo de policiamento. Então, é um tipo de policiamento que está começando agora, diferente, por exemplo, do policiamento ambiental, que já existe há décadas. E, agora, as corporações começaram a acordar e verificar a necessidade de um policiamento rural. E nós podemos observar que Mato Grosso do Sul vem se desenvolvendo na parte de agricultura e pecuária, de forma expressiva, mas não faz tanto tempo assim. Por exemplo, nós sempre fomos referência em pecuária, mas nós estamos muito atrás de Mato Grosso, por exemplo, na questão de produção de soja, de riqueza, quando comparado ao interior de São Paulo, Goiás. Então, acho que ao longo da história nós viemos crescendo e crescemos juntos, né? Junto com o produtor rural. Áreas que eram de pastagem, hoje, são fazendas produtoras de soja, de milho, e dispõem de equipamentos muito caros. Obviamente que isso chama atenção para a questão do crime e, com tudo isso, nós ainda estamos conseguindo diminuir a incidência na área rural. Então, o tempo mostrou que precisávamos dar essa atenção para uma parcela importante do estado, que contribui decisivamente com o PIB de Mato Grosso do Sul.
O número de policiais do Batalhão de Polícia Militar Rural é suficiente para atender a todo o estado?
Coronel Cleder Especificamente, temos 120 policiais distribuídos no estado. Nós ainda não temos equipes em cada um dos municípios. Mas cada equipe consegue atender 23 municípios, porque a área rural é diferente da área urbana. Na urbana, você vê ali onde começa a cidade e onde que termina. Na área rural, às vezes a fazenda tem parte da área em determinado município e o restante em outro município. E as estradas se comunicam entre os municípios. Então, o tipo de policiamento é diferente. É claro que é sempre desejável que se tenha um número maior de policiamento. Se você pegar, por exemplo, o Pantanal, uma região extremamente complexa para se fazer policiamento rural, como é que você faz? Você precisa não só de equipe, mas de muita parceria com os produtores rurais locais. E essa parceria entre a Polícia Militar e os produtores tem sido vencedora, tem feito a diferença nas reduções de crimes que nós temos verificado, porque os produtores rurais passaram a conhecer, a acreditar e a confiar no policiamento rural que nós estamos colocando à disposição. E essa troca de informações tem levado a Polícia Militar a ter uma efetividade muito melhor de trabalho. Então, nós contamos com isso e com tecnologia, contamos com outros parceiros também, como a Iagro (Agência de Defesa Sanitária Animal e Vegetal). Por exemplo, na região de fronteira com o Paraguai, muita gente furta gado para consumo próprio e também para abatedores clandestinos. Essa é a importância da fiscalização da Iagro, para garantir a nossa segurança alimentar, a nossa saúde. Então, atuamos em conjunto para combater o furto que abastece esses abatedores e açougues clandestinos. Por isso que as pessoas precisam ficar um pouco preocupadas e atentas aonde vão comprar, de onde vem essa carne que vão consumir porque pode ter sido um produto de furto. E temos também apoio do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), da Polícia Rodoviária Estadual e da Polícia Ambiental. Então, se considerarmos apenas número, nós precisaríamos de muito mais policiais, mas nós temos como mitigar toda essa dificuldade. E, dessa forma estamos conseguindo atender todo o estado. Mesmo assim mantemos a proposta de ter pelo menos uma equipe em cada município. Esse é o nosso objetivo.