i nas redes sociais críticas ao Galvão Bueno, porque ele pediu que o grupo que estava com ele no estúdio olímpico se levantasse porque começara a tocar o Hino Nacional. A crítica foi porque no grupo estavam um cadeirante e o velejador Lars Grael, que teve uma perna decepada pela hélice da lancha de um bêbedo. Pois acho que a crítica teve o alvo errado. A crítica deve ser endereçada à necessidade de ter que pedir que alguém se levante quando toca o Hino. Durante a Olimpíada, recebi um vídeo mostrando Usain Bolt a conceder entrevista a uma repórter de língua espanhola. Quando o atleta ouve o hino dos Estados Unidos chegando, interrompe o que falava e faz sinal para a jornalista: “Vamos ouvir o hino”. E ficou em posição de sentido, de respeito, de frente para a origem do som, enquanto tocava um hino que nem é dele. Penso que as escolas da Jamaica nisso são melhores que as brasileiras.
Aprendi cedo a fazer continência. Tenho uma foto com dois anos de idade com a mão direita espalmada sobre o canto da testa. Meu avô hasteava a bandeira na fachada da casa no primeiro dia de setembro, abrindo a Semana da Pátria. Eu ia de bandeirinha, levado por minha mãe, ver a parada do Sete de Setembro, na primeira metade dos anos 40. No Grupo Escolar, aos sábados, abríamos a Hora Cívica festiva cantando o Hino, enquanto a bandeira era hasteada. Líamos composições nossas, declamávamos poesias, exaltando os heróis e os feitos históricos da semana e, por fim, cantávamos o Hino à Bandeira, enquanto o pavilhão era arriado. Imagino que, na época – anos 40 – as escolas da Jamaica já ensinavam assim, embora a ilha ainda fosse colônia britânica. Usain Bolt e eu somos dessa estirpe.
Mas alguns internacionalistas – vício do passado – pensam que não se deve cultivar os valores do país. Estão perdidos, porque sua internacional afundou com o Muro de Berlim. Aí, ficam esbravejando contra as continências prestadas por sargentos das três forças, que subiram ao pódio na Olimpíada. Se equiparam, com isso, ao nazista Hitler, que ficou furioso com a continência de Jesse Owens ao hino americano, com quatro medalhas de ouro no pescoço, na Olimpíada de 1936, em Berlim. Das 19 medalhas do Brasil, 13 foram obtidas por militares – quase 70%. Dos sete ouros, quatro de sargentos. Pensei que isso fosse novidade, até que vi o cabo João do Pulo – quatro vezes ouro e recordista mundial no salto em distância e salto triplo – prestando continência, nos anos 70.
Tem gente que acha isso uma bobagem; chama isso de patriotada. Mas se viajar à nação mais poderosa da Terra, vai ver bandeiras em toda a parte; vai sentir a vibração do americano quando toca o hino; se estiver por lá no 4 de Julho, vai ver o tamanhão da festa. Na minha casa a bandeira sempre está no ponto mais alto, nos fins de semana, e recebe a minha continência cheia de vibração. Vai tremular todos os dias da Semana da Pátria. Serve sempre para me lembrar que não é um time de futebol; é um país que devemos respeitar, cumprindo as leis e combatendo os fora da lei, pelo voto ou pela nossa força de cidadania. Porque, ao contrário do que se diz por nos enganarmos a nós mesmos, não somos um país rico. Somos um país pobre, já que o país somos nós. Mas pode se tornar rico, com cada um progredindo na vida. E o progresso começa com ordem.