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Comportamento

Brasileiros. Nem tanto

Queremos justiça em tudo, mas furamos a fila do supermercado, estacionamos em local proibido e vivemos no país do Gerson, em busca de vantagem

 Júlio Gavinho- É executivo da área de hotelaria
Júlio Gavinho- É executivo da área de hotelaria

No Brasil ninguém se assume de direita, mas somos quase todos de centro esquerda. Aqueles educados que se assumem de esquerda, acrescentam o “mas nem tanto.” Queremos construir um país de estrutura moral sólida, curtindo as leis à risca, “mas nem tanto”.

Desejamos a prisão dos que tungam o erário, porém assistimos, ansiosos pela novela, o massacre diário nas favelas do Rio. Vamos a passeatas, desejamos uma revolução, “mas nem tanto.” Queremos justiça em tudo, mas furamos a fila do supermercado, estacionamos em local proibido e vivemos no país do Gerson, em busca de vantagem.

Não observamos que a corrupção se dá em níveis menores, todos os dias e não só nos grandes escalões, na operação Lava Jato ou nos mensalões da vida. Quando deixamos de emitir ou pedir uma nota fiscal estamos agindo a favor da corrupção. Quando falsificamos a carteirinha de estudante ou quando compramos produtos falsificados também. Furando fila, não denunciando o gato do vizinho para roubar energia elétrica ou TV a cabo, quando tentamos subornar o guarda para evitar uma multa de trânsito idem.

Estamos chocados com a tragédia da barragem em Minas, mas nem tanto.  Embora vítimas do maior desastre ambiental da história do Brasil, os habitantes da região pedem a volta da Samarco à plena operação, porque estão desempregados. Prefeitos e vereadores regurgitam os royalties reduzidos dramaticamente. Como resultado, queremos a punição exemplar a Samarco e da Vale, mas nem tanto.

Vibramos com os novos indiciados das incontáveis operações da PF e do MPF, mas não temos a menor ideia do que vem a seguir. Nossa novela judiciária terá novos capítulos em breve, e com raras exceções, continuamos apaixonados pelos mesmos personagens tal qual um “Show de Truman” às avessas, com uns poucos controlando o destino de todos nós, sem que ao menos percebamos. Quem é o suplente do Dudu Cunha? Porque o Paulo Roberto devolveu sua lustrosa tornozeleira? Quem vai administrar o espaço comprimido entre o Oiapoque e o Arrio do Chuí?

Queremos mudar o Brasil, mas nem tanto. Não queremos sujar as mãos da tinta eleitoral, como se abstenção lhe garantisse um alvará de soltura prévio pelo crime de omissão à pátria que você acaba de cometer. Queremos mudar o Brasil, mas nem tanto. Por favor ponha o despertador para amanhã cedo e acorde, brasileirinho.

* Júlio Gavinho- É executivo da área de hotelaria