Muitos brasileiros esperam o 13º salário todo ano, afinal é um dinheiro extra, uma gratificação que entra no bolso do trabalhador, do aposentado e na economia do país. Marçal Rogério Rizzo (economista e professor da UFMS – Campus de Três Lagoas) dá dicas de como utilizar o 13º salário de forma mais consciente.
Jornal do Povo – Quem tem direito de receber o 13º salário no Brasil?
Marçal Rogério Rizzo – Todos trabalhadores com carteira assinada, aposentados e funcionários públicos.
Jornal do Povo – Quando e como o 13º salário deve ser pago?
Marçal Rogério Rizzo – O 13º salário deve ser pago em 2 parcelas, sendo a primeira até 30 de novembro e a segunda até 20 de dezembro.
Jornal do Povo – Como economista o senhor pode abonar que o 13º salário traz resultados positivos e importantes para a economia?
Marçal Rogério Rizzo – Sem dúvidas. Temos que lembrar que a economia precisa girar, precisa estar aquecida, ter consumo e produção, entretanto, para isso necessita de renda. Sem renda não há consumo e sem consumo não há produção. De certa forma o 13º salário vem como um “energético” para a economia e ajuda nas compras extras do final do ano, mas também desafoga as contas de muitas famílias e insere-se como um “plus” no círculo econômico. Pode notar que a maioria dos comerciantes e industriais tem as festas de final de ano e réveillon como o principal período no calendário das vendas e isso se deve em parte considerável a inserção dos recursos do 13º salário. O setor do turismo também se aquece com os recursos do 13º salário.
Jornal do Povo – É certo usar todo o 13º para as compras extras do fim de ano?
Marçal Rogério Rizzo – Penso que não! O que posso dizer é que tudo tem que ser programado. Dinheiro não aceita desaforo! Tudo depende de como estão as contas da pessoa e/ou família. Imagine um cenário que durante o ano a família ou pessoa já venha fazendo uma programação consciente de poupança, já esteja investindo, está com todas as contas em ordem e sem dívida. Aí vem o 13º salário, que é uma gratificação e ela tem o desejo de comprar algo diferente, fazer uma bela e gostosa ceia e presentear os membros da família, nesse cenário pode utilizar parte do 13º com compras sem peso na consciência. Agora vem um outro cenário: A família ou pessoa está toda endividada, pagando juros altos, todo mês gastando mais do que ganha, como ela poderá gastar todo o 13º com compras e continuar toda endividada? Não faz sentido! Isso mostra que está havendo um desequilíbrio nas contas e o 13º poderia ajudar a chegar no equilíbrio. Sugiro que pense bem antes de gastar todo o 13º. Guarde uma parte dele.
Jornal do Povo – Então é interessante poupar o 13º salário?
Marçal Rogério Rizzo – Respondo a questão com perguntas para a reflexão. Poupar para que? Onde será utilizado o dinheiro poupado? Você ou a família tem algum sonho traçado? Quanto e em que tempo quer realizar o sonho? Quer guardar o dinheiro para fazer uma reserva de emergência? Sempre temos que pensar que dinheiro é meio. É um meio para realizar sonhos e desejos. Se temos um sonho traçado que o 13º poderá ajudar a realizar, ótimo, utilize-o como poupança para depois se converter em sonho. O que parece ser um sacrifício é o ato de poupar por poupar, somente como efeito algo acumulativo, sem sonho, sem objetivo, assim, sempre parecerá algo sem sentido e não trará tranquilidade, disciplina e perseverança. Também temos que ter em mente que todo início de ano surge muitas contas extras e se não tivermos uma programação adequada com base em uma reserva de emergência temos que guardar o 13º salário para nos socorrer. Lembre-se que temos IPVA, IPTU, matricula de escola ou faculdade, material escolar e tantas outras contas extras todo início de ano.
Jornal do Povo – Se estou endividado vale utilizar o 13º salário para quitar as dívidas?
Marçal Rogério Rizzo – O 13º salário não deveria ser o salvador da pátria para pagar dívidas. Se está endividado tem algo errado. Está gastando mais do que ganha. Porque disso? Existem causas das dívidas que tem muita relação com nosso descontrole, contudo também há problemas que fogem de nosso alcance como por exemplo, desemprego e doença na família. Pense na causa e tente resolve-la. Agora, toda dívida tem que ser analisada. Antes de pagar tem que buscar informações para renegociar com o credor, ver o total dos juros, o prazo e o desconto que terá com a quitação. Se depois de analisado ter a certeza que valerá a pena, utilize do 13º para isso.
Jornal do Povo – Estamos vendo que hoje a palavra investimento anda muito forte na vida do brasileiro. É interessante utilizar o 13º para iniciar um investimento?
Marçal Rogério Rizzo – Hoje fala-se muito em investimentos justamente por termos dúvidas a respeito de nossa aposentadoria. Será que iremos nos aposentar? Será que o valor que iremos receber será o suficiente? A solução amenizadora que vem sendo pregada é termos uma boa carteira de investimentos hoje para garantir o futuro. Se o 13º salário é um dinheiro extra ele pode vir a ser um início para uma carteira diversificada de investimentos. De tudo que falei ressalto que cada caso é um caso, tudo dependerá de como está a situação de cada um ou de cada família, mas sempre é coerente guardar uma parte do 13º salário como reserva de emergência ou como um extra para realizar sonhos ou investimento. Grana extra deve ser utilizada com sabedoria!