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O assassinato das vogais

Rodrigo Alves de Carvalho é jornalista e escritor - Imagem cedida
Rodrigo Alves de Carvalho é jornalista e escritor - Imagem cedida

No ano quatro mil A.C., o pessoal já costumava se comunicar através de ideogramas e hieróglifos, que eram desenhos simbolizando o que queriam se expressar. As origens de um alfabeto se deu por volta de dois mil anos A.C., quando as primeiras letras foram criadas.

Bom, não vamos fazer um levantamento histórico sobre o surgimento das letras e das palavras porque demandaria muitas palavras e letras, porém nosso espaço e limitado.

Simplesmente pulando toda essa evolução ortográfica que aconteceu em dado momento da história, chegamos ao que conhecemos hoje, onde cada povo em cada parte do mundo adota um modo de se comunicar através de seus símbolos escritos ou desenhados. Contudo, a maioria dos povos utilizam as letras na qual também utilizamos no Brasil. O nosso alfabeto contém vinte e seis letras, sendo vinte e uma consoantes e cinco vogais.

Por serem em menor número, as vogais acabam sofrendo uma espécie de bullying das outras letras. Em algumas partes do mundo as vogais são pouco utilizadas. 

Na Alemanha por exemplo, escreve-se palavras com muito mais consoantes que vogais, além de escreverem palavras gigantescas como “eichhornchen” (esquilo), “schlittschuhlaufen” (patinação) e no Tribunal Federal de Leipzig conhecido como “Bundeswerwaltungsgericht”. Entretanto, se pensarmos que na Alemanha as vogais são bastante ignoradas, na República Tcheca as boicotam de vez como na frase: “Strc prst skrz krk” que significa “colocar o dedo através do pescoço”. Já no Marrocos, em um dialeto do país escrevem “ você entrega” dessa singela maneira impronunciável: “Tkkststt”.

No Brasil, o uso das vogais sempre foi mais democrático, chegando até a conter palavras com mais vogais que consoantes. Infelizmente, nos dias atuais as vogais estão sendo praticamente assassinadas de nossas palavras. A cada dia aparecem palavras estranhas, abreviações tenebrosas que empesteiam as redes sociais e correios eletrônicos. Não estou falando das abreviações oficiais que não contem vogais, mas palavras do dia a dia que simplesmente sumiram com as vogais.

“Blz” (beleza), “tbm” (também), “ctz” (certeza), “tdb” (tudo de bom), “sqn” (só que não), “fdp” (essa não posso traduzir aqui) …

E existem muitas outras palavras que principalmente as novas gerações não usam vogais e abreviam sem nenhum dó no intuito de facilitar a digitação e por rapidez. Com isso nossas vogais acabam sendo mortas. 

É preciso tomarmos alguma atitude antes que a língua portuguesa seja dominada pelas consoantes e as queridas vogais acabem sendo extintas para sempre!

*Rodrigo Alves de Carvalho é jornalista e escritor