Que o tempo seja o grande e valioso bem, onde independentemente do destino escolhido, as horas e dias passados ali deixem marcas significativas em cada indivíduo.
Pensar no favorecimento do tempo em detrimento da quantidade de destinos visitados é renegar parte da estrutura do turismo que conhecemos até hoje. O chamado over tourism, que é caracterizado pela prática em larga escala, que lota aeroportos e destinos turísticos, sobrecarregando infraestruturas e é altamente prejudicial a comunidade local por afetar a tranquilidade nativa, será renegado.
É o momento de reconhecer o pequeno, está posta a oportunidade para destinos de pequeno porte, para atrativos simples e sem reconhecimento internacional. Viabilizar estruturas com poucos recursos e favorecer as viagens em pequena escala, parecem como a única alternativa para saciar o desejo humano em descobrir e desfrutar do ambiente natural frente a pandemia. As mesmas viagens que até outrora eram desprezadas pelos grandes empreendimentos hoteleiros, pela falta de infraestrutura, são atualmente um diamante a ser moldado.
.Frente a este cenário de modificação, instabilidade e incertezas, reflete-se sobre três questionamentos fundamentais para a recuperação do setor turístico.
1. Quais os efeitos da pandemia no turismo brasileiro e no mundo?
As pessoas estão sendo convidadas a modificar seus padrões comportamentais, suas formas de interagir, de trabalhar, suas rotinas, seus hábitos e até a forma de se comunicar. Com isso, o consumo por viagens e pelo turismo também está sendo modificado.
O sol, a brisa do mar, o cheiro da terra e a conexão com os elementos da natureza estão sendo recalculados por todos nós. Como efeito de toda crise que estamos vivenciando espera-se que o consumidor adquira maior consciência dos elementos reais que formam uma viagem. Para além da escolha dos meios de transporte e de hospedagem a viagem tem por fundamento a conexão interna consigo, com aqueles em que se escolhe como companhia e com o destino que se visita. Espera-se como impacto direto da Covid-19, que viagens mais intimistas recebam a sua devida valorização, menor impacto aos recursos naturais e mais valor, não econômico, mas de significados a cada indivíduo. Espera-se que o consumo do turismo em larga escala, seja revisitado e modificado de maneira ampla e definitiva. Que as viagens sejam eminentemente formas de fortalecimento das relações humanas em detrimento de formas de consumo exacerbado ou de reprodução de status ou posição social.
2. O que as pessoas que atuam na área do turismo podem fazer para se recuperar após o fim do distanciamento social?
Toda a cadeia turística está sofrendo de forma direta os impactos da pandemia, e muitas discussões buscam contribuir com as possíveis formas de se recuperar. Tudo ainda é incipiente, não há respostas prontas ou fórmulas mágicas. O que se sabe em relação aos negócios turísticos é que eles sofrerão uma modificação estrutural no que se refere aos cuidados sanitários, aos controles de número de visitantes e até em relação aos padrões de consumo.
Empreendimentos que se voltarem para a oferta de experiências únicas com o destino, com respeito ao ambiente natural e as tradições locais, parecem mais apropriados a esta nova realidade mundial. Além disso é necessário que o empreendimento observe o consumidor como um aliado em todo o processo – o papel do cliente se inferioriza frente a parceria que passa a ser construída entre cliente e empresa. Certamente além de consumir uma viagem mais consciente ele também estará disposto a participar ativamente da sua recuperação.
3. Como é possível se preparar para situações como essas no futuro?
Não há como se preparar para situações semelhantes. Acredito na modificação estrutural do consumo e da oferta de produtos e serviços de forma diferenciada e inovadora. No turismo, o cenário nacional se configura como uma oportunidade de desenvolvimento único. Muitos darão preferência para viagens internas, para pequenos deslocamentos e para a segurança de permanecer em seu território. O desejo de viajar e estar conectado com os elementos naturais estão sendo potencializados com o isolamento, é da na natureza humana a necessidade de descoberta e de encantamento com o meio ambiente. O turismo nacional recebe por este movimento uma oportunidade única de ser alavancado e valorizado pelo seu público de forma especial.
Que a sensibilidade do momento nos permita conectar e fomentar a descoberta das potencialidades locais e a valorizar os espaços e os atrativos nacionais.
Grazielle Ueno Maccoppi
Coordenadora dos cursos de Gestão de Turismo e Gestão Empreendedora de Serviços do Centro Universitário Internacional Uninter