No filme “O Candidato”, premiado com o “Oscar” de melhor roteiro em 1972, Bill McKay (Robert Redford), eleito em inusitada campanha questiona o mentor de sua estratégia política na campanha: “E agora, o que faremos?” A mesma questão deve estar ocorrendo, agora, com os prefeitos, vices e vereadores eleitos domingo passado. E motivos para dúvidas não lhes faltam.
O questionamento introspectivo de Bill refletiu sua inquietação ao perceber que, eleito, expusera-se ao papel de formulador de soluções e não mais ao de crítico.
Os questionamentos introspectivos dos prefeitos, vice e vereadores vão além do papel que assumirão em janeiro do ano que vem. A questão principal é de maneira desempenharão suas funções.
Bill estreava em um quadro estável e era o “sangue novo”, a renovação política esperada.
Os eleitos, ou reeleitos de agora adentram aos Poderes em um quadro instável e sem horizonte definido; caminham sem guias porque os caciques políticos sumiram. Todos, agora, são aprendizes e estão sujeitos à reprovação.
A realidade do quadro político institucional brasileiro que sobressai dessas eleições é a de que estamos em estado de convulsão pré-reforma modelar do viciado sistema político vigente.
Aristóteles já dizia que “o homem é, por natureza, um ser vivo politico” e que “tudo flui, nada permanece” ou, em outras palavras “nada é permanente, exceto a mudança”.
As mudanças foram prenunciadas com os movimentos de rua em 2013, seguidas pela deflagração da operação Lava Jato a partir de 2014, da crise de governabilidade em 2015, do processo de impeachment da ex-presidente neste ano, enfim, todos esses acontecimentos sinalizam oportunidades para ampla reforma no sistema politico brasileiro.
“E agora, o que faremos?” é o questionamento inquietador e perturbador para os congressistas e toda a classe politica, que em suas “aldeias” desconectadas de seus representados, foram surpreendidos pelas energias empoderadoras dos movimentos e redes sociais nos encaminhamentos, discussões das questões de relevância para a sociedade e decisões de responsabilização politica.
*É consultor de empresas.