Com 348 novos mercados abertos para produtos do agronegócio brasileiro desde 2019, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) reforçou durante o Fórum Agro, o compromisso com a inserção internacional do agro nacional.
Representando a Secretaria de Comércio e Relações Internacionais do MAPA o diretor de Negociações Não-Tarifárias, Augusto Billy, e a diretora de Promoção Comercial e Investimentos, Ângela Pimenta, apresentaram um panorama sobre os principais desafios e avanços nas frentes de comércio exterior.
Logo no início de sua fala, Billy deixou claro: abrir mercado não basta — é preciso colocar o produto na gôndola do exterior.
“O papel do governo é derrubar barreiras e fazer acordos. Mas o trabalho só começa aí. Depois disso, cabe aos produtores, cooperativas e indústrias se capacitarem e entrarem de fato nesses mercados”, destacou.
Vencendo barreiras e enfrentando desafios multilaterais
Segundo o diretor, o Brasil enfrenta hoje barreiras comerciais de três gerações: tarifas, sanidade e sustentabilidade. As barreiras tarifárias, apesar de reguladas desde a criação da OMC em 1995, voltaram ao debate com o aumento do protecionismo e medidas unilaterais, como as recentes ações do presidente Donald Trump nos Estados Unidos.
“Há um movimento de retrocesso. Países voltando a impor tarifas de forma arbitrária. E nós temos que estar atentos e prontos para defender nossos interesses nas organizações multilaterais”, alertou Billy.
Já as barreiras sanitárias e fitossanitárias, embora mais comuns, precisam ser baseadas em ciência, segundo os acordos internacionais. E hoje, uma nova geração de barreiras ganha espaço: aquelas relacionadas a sustentabilidade, rastreabilidade, direitos trabalhistas e ambientais — como a nova regulamentação da União Europeia sobre desmatamento.
“A Europa quer rastrear produtos até a origem e excluir qualquer item vindo de áreas desmatadas após 2020, mesmo que legalmente. Isso é uma barreira disfarçada de preocupação ambiental, que precisa ser debatida com seriedade”, completou.
Diplomacia técnica: abrir mercados exige estratégia
Billy também compartilhou bastidores de negociações complexas, como o processo para retomar exportações de carne ao Reino Unido após o Brexit.
Com relatos descontraídos, explicou como o Brasil conseguiu pressionar diplomaticamente para retomar o pré-listing e eliminar controles reforçados sobre a carne brasileira.
“Mostramos que nossa salmonela é estatisticamente similar à europeia. Negociamos com dados, ciência e postura firme. A diplomacia técnica funciona, mas exige articulação e conhecimento”, resumiu.
Promoção comercial: hora de ocupar os mercados abertos
Na sequência, Ângela Pimenta apresentou as ferramentas e ações do MAPA para transformar abertura de mercado em vendas efetivas.
“Abrir mercado é o primeiro passo. O segundo é capacitar nossos exportadores e apoiar a promoção comercial dos nossos produtos no exterior”, afirmou.
Entre as iniciativas, ela destacou o Passaporte Agro, uma plataforma digital que reúne todas as exigências sanitárias e regulatórias de mercados já abertos, além de contatos de importadores e oportunidades de negócio.
“É uma ferramenta valiosa para o produtor saber o que precisa cumprir e com quem negociar lá fora”, explicou.
Outra frente é a participação em feiras internacionais. O MAPA já levou empresas brasileiras a mais de 70 missões comerciais e 16 feiras globais em dois anos — com apoio logístico e institucional do governo.
Muitas dessas feiras contam com espaço gratuito para pequenas e médias empresas, que só precisam arcar com os custos de deslocamento.
Rede de adidos agrícolas e internacionalização
Ângela também ressaltou o papel dos adidos agrícolas — servidores do MAPA que atuam em 38 países estratégicos, dentro das embaixadas do Brasil.
“Eles são nossos olhos e ouvidos no exterior. Estão à disposição dos exportadores brasileiros para abrir portas, identificar oportunidades e apoiar negociações bilaterais”, garantiu.
Por fim, ela destacou o papel do departamento que dirige na atração de investimentos estrangeiros para o agro brasileiro e na internacionalização de empresas nacionais, com apoio a rodadas de negócios, eventos e articulações em parceria com outras pastas do governo federal.