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Campo Grande 124 Anos

Afonso Pena, 14 de Julho e Relógio Central estão ligados à história de Campo Grande

Historiadores e Pesquisadores contam um pouco do local que um dia foi o principal ponto de encontro, ideias e lazer da cidade

Afonso Pena, 14 de Julho e Relógio Central estão ligados à história de Campo Grande - Foto: Arquivo/CBN-CG
Afonso Pena, 14 de Julho e Relógio Central estão ligados à história de Campo Grande - Foto: Arquivo/CBN-CG

A Rua 14 de Julho já foi a principal rua de comércio da capital e faz parte da história e do desenvolvimento de Campo Grande.  Sua origem foi em 1909, em uma época que Campo Grande tinha apenas uma rua, a até hoje chamada de 26 de agosto. Nesse tempo, o então prefeito da capital, Manuel Inácio de Sousa decidiu desenvolver um plano de urbanização para a cidade e o engenheiro Nilo Javari Barém montou o projeto de um quadrilatero que contava com a criação da 14 de julho e da principal avenida da cidade, a Afonso Pena, mostrando que as duas vias também estão conectadas historicamente. 

O professor de geociência da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e doutor em geografia, Antônio Firmino de Oliveira Neto, escreveu um livro 

"Esse quadrilatero é formado pela rua ao sul, a 26 de Agosto, antigamente chamada de Rua Velha, ao norte vai até a Cândido Mariano, ao oeste está a avenida Calógeras e ao leste a rua José Antônio Pereira. Então esse quadrilatero foi feito em 1910 e havia uma rua programada para ser a principal, que é a avenida Afonso Pena, já com o plano das duas praças, a hoje chamada Ary Coelho e a praça do Rádio Clube", conta.

Na mesma época, as obras da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) estavam em pleno desenvolvimento e tinham planos de passar a ferrovia por Campo Grande, pela Avenida Afonso Pena, dividindo a cidade ao meio, fato que fez com que os comerciantes escolhemssem a 14 de julho como local para instalarem suas lojas. Com o tempo as obras da ferrovia contornaram a cidade e não passaram pela Afonso Pena, mas a Rua 14 de Julho continuou como ponto forte do comercio da capital pelos próximos anos.

"A partir de 1911 e 1912 é que se há uma maior concentração de comércios na 14 de Julho, eu consegui identificar isso quando estava fazendo a minha tese. Com isso, a medida que os comerciantes foram se instalando na 14, ela passou a ser o principal ponto de abastecimento de toda a região, principalmente para os fazendeiros que vinham a cidade comprar seus mantimentos com grandes compras em carretas e carroças", explica o pesquisador.

De acordo com a presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Maria Madalena Dib, 20 anos depois, na intercecção entre a 14 de Julho e a Afonso Pena, foi construído o Relógio Central, um marco na história da cidade e o que aumenta ainda mais o movimento na região.

"O relógio foi inaugurado em 23 de agosto de 1933 com cinco metros de altura e quatro faces. Toda a população ficava ali no Jardim Público, chamado de praça Ary Coelho anos depois após a morte do Ary em 54, e o relógio era realmente um ponto de referência. Todas as atividades recreativas, sociais e políticas tinham o relógio na Afonso Pena como grande referência".

Ainda segundo a professora, o relógio foi demolido em 1970, por conta do alto fluxo de veículos crescente no local e, principalmente, por motivos ideológicos. Desde então, mesmo voltando a ser construída uma nova estrutura em 2019, a representatividade nunca mais foi a mesma.

"O relógio foi tirado em um momento que ele significava aglomeração e funcionava como ponto de encontro e de ideias. Dentro do regime militar era muito perigoso pessoas terem ideias, então resolveram tirar aquilo que materializa esse encontro de ideias como se fosse possível fazer as pessoas pararem de pensar […] Agora quando é recolocado o relógio, eu vejo que ele ficou como um monumento de decoração na cidade, mas nunca vai ter o significado que teve dentro da história, nunca vai ser o que foi, um ponto de encontro e de debates dentro da cidade", relembra a historiadora.

Atualmente, uma réplica do relógio original está localizada no canteiro da Avenida Afonso Pena, próximo ao cruzamento com a Avenida Calógeras, também na região central da cidade, para que a população não esqueça o que um dia foi símbolo de liberdade.

A Rua 14 de julho, a Avenida Afonso Pena e o Relógio Central marcaram uma época e estão para sempre na história da capital sul-mato-grossense.