Embora 84,13% da população de Mato Grosso do Sul resida em ruas com calçadas, a realidade enfrentada por moradores de várias regiões de Campo Grande revela que ter passeio público não garante mobilidade segura.
É o que mostra o Censo 2022 do IBGE, divulgado na manhã desta quinta-feira (17), que apontou ainda que só 23,39% das pessoas no estado vivem em vias com calçadas livres de obstáculos — o que coloca Mato Grosso do Sul na 6ª posição nacional nesse quesito.
A capital sul-mato-grossense aparece com 85,44% de cobertura de calçadas, mas quando o critério é a ausência de obstáculos, como mato, lixo, buracos, desníveis e entulho, o percentual cai para 30,84%.
Isso significa que cerca de 70% das calçadas de Campo Grande não estão plenamente acessíveis aos pedestres.
Para quem vive nos bairros, os números se traduzem em dificuldades diárias. No Jardim Veraneio, a Maely Leite Galvão, moradora há mais de 30 anos, conta que o matagal e o acúmulo de lixo sempre estiveram presentes.
“Faz mais de 20 anos que é assim. A prefeitura faz uma limpeza de vez em quando, mas logo volta tudo. As pessoas também não têm consciência. Jogam telha, planta, lixo no meio da rua”, disse.
O descuido, segundo ela, afeta a saúde dos moradores. “A vizinha da frente vive com dengue. Quando minha mãe era viva, ela e meu pai também pegavam direto. E as crianças? Não andam na calçada. Só na rua, porque não tem como andar. É só mato e lixo”, desabafa.
Andressa Bogado, que vive na mesma região há cinco anos, relata a presença constante de escorpiões e cobra uma limpeza mais frequente. “Se nesses anos todos limparam uma vez, foi muito. É um risco. Aqui aparece escorpião direto. Já encontrei mais de dez dentro de casa. Tem muita criança que anda de bicicleta por aqui. A calçada deveria estar limpa para elas, mas é mato e bicho peçonhento. Além disso, jogam lixo em qualquer lugar.”
Lei existe, mas fiscalização é falha
De acordo com a legislação de Campo Grande, é obrigação do proprietário do imóvel construir e manter a calçada, mesmo sendo área pública. A Lei nº 2.909/1992, que trata do Código de Polícia Administrativa do município, determina que a calçada precisa garantir passagem livre e segura ao pedestre — o que inclui manutenção contra mato, buracos, entulho ou qualquer obstrução. O descumprimento pode gerar multas de até R$ 3 mil.
O Guia de Boas Práticas para Construção das Calçadas, elaborado pela prefeitura, prevê largura mínima de 1,5 metro de faixa livre, inclinação controlada, acessibilidade e, em casos específicos, até o uso de piso tátil.
Mas na prática, calçadas esburacadas, desniveladas ou completamente ausentes seguem sendo comuns, especialmente em bairros mais afastados.
A reportagem entrou em contato com a prefeitura para saber o número de multas aplicadas referentes a preservação de calçadas, mas não obteve resposta até o fechamento dessa reportagem.
Chapadão do Sul é destaque, enquanto Bela Vista e Guia Lopes ficam no fim do ranking
Entre os municípios de Mato Grosso do Sul com maior cobertura de calçadas, Chapadão do Sul (99,9%) e Antônio João (99,85%) lideram. Já Bela Vista (28,73%) e Guia Lopes da Laguna (27,80%) registram os menores índices de infraestrutura para pedestres.
No que diz respeito à qualidade das calçadas — ou seja, ausência de obstáculos — Costa Rica (59,64%) e novamente Antônio João (50,96%) aparecem como os melhores colocados no estado.
Já municípios como Dois Irmãos do Buriti (0,61%) e Bandeirantes (0,62%) praticamente não possuem vias calçadas livres de obstáculos, segundo os dados do IBGE.