Cerca de 80% das escolas estaduais e municipais de Mato Grosso do Sul amanheceram de portas fechadas nesta terça-feira (23), em adesão à paralisação nacional convocada durante a 26ª Semana Nacional de Promoção e Defesa da Educação Pública.
O ato reuniu educadores de diversas regiões do Estado em uma passeata realizada no centro de Campo Grande.
A mobilização é liderada por entidades como a Federação dos Trabalhadores em Educação de Mato Grosso do Sul (Fetems) e o Sindicato Campo-Grandense dos Profissionais da Educação Pública (ACP-MS), e tem como pautas centrais a valorização da carreira docente, a realização de concursos públicos e a defesa da gestão pública direta nas escolas.
“Essa paralisação é uma resposta à precarização do serviço público. Hoje, menos de 40% dos professores da rede estadual são efetivos. A maioria é contratada temporariamente, o que prejudica a continuidade pedagógica e desrespeita a legislação que exige concurso para ingresso no serviço público”, afirmou o presidente da ACP, professor Gilvano Bronzoni.
Além da defesa por contratações efetivas, os educadores também protestam contra a terceirização da educação. Para os sindicatos, a prática fragiliza os direitos dos trabalhadores e desvia recursos públicos para empresas privadas, em detrimento da qualidade do ensino.
A vice-presidente da Fetems, Deumeires Morais, reforça que a mobilização tem respaldo da maioria das escolas do Estado. “Reunimos representantes dos 74 sindicatos filiados e deliberamos em assembleia pela paralisação. Hoje, os professores e administrativos reivindicam concurso público, a aplicação integral da Lei do Piso, e o fim do desconto de 14% sobre os aposentados, que reduz ainda mais a renda dos inativos”, pontua.
Entre as preocupações locais, também está a valorização dos professores convocados, a implementação do piso para os administrativos e a rejeição à privatização da gestão escolar.
“Defendemos que o dinheiro público seja gerenciado pelo servidor público, dentro do modelo atual, que garante mais transparência, participação e qualidade”, destacou Deumeires.
A paralisação, segundo os organizadores, é pontual e busca retomar o diálogo com os governos estadual e municipais. “Parar por um dia é uma forma de evitar greves mais longas, que impactam diretamente a comunidade escolar. Estamos dispostos a negociar, mas esperamos uma resposta à altura das nossas reivindicações”, afirmou Gilvano.
Outro ponto de crítica diz respeito ao Plano Nacional de Educação (PNE), que expirou em 2024 e ainda aguarda atualização. Uma audiência pública realizada nesta terça-feira na Assembleia Legislativa de MS discutiu o tema.
“O novo plano precisa refletir a realidade de quem vive a educação todos os dias: professores, alunos, pais, administrativos. Já realizamos conferências em todas as esferas. Agora, queremos um PNE que traduza essas propostas em metas reais”, acrescenta Gilvano.
Professora há 40 anos na rede estadual, Sueli Veiga Melo acompanhou o ato e fez um balanço da trajetória da categoria. “As condições melhoraram muito em comparação ao passado, quando não recebíamos em dia e os direitos não eram respeitados. Mas ainda temos muito a avançar. A educação precisa de investimento, valorização e continuidade. Quem está na educação sabe que a luta é permanente”, refletiu.