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MOBILIDADE URBANA

Calçadas esquecidas, ruas lotadas: a luta pela mobilidade em Campo Grande

A falta de planejamento e a crescente frota de veículos transformam o dia a dia dos campo-grandenses

A falta de planejamento e a crescente frota de veículos transformam o dia a dia dos campo-grandenses
A falta de planejamento e a crescente frota de veículos transformam o dia a dia dos campo-grandenses | Foto: Reprodução/Governo de MS

A mobilidade urbana é um tema que impacta diretamente a vida dos moradores de Campo Grande, influenciando o tempo de deslocamento para o trabalho, escola ou atividades cotidianas. Apesar de ser comumente associada ao trânsito de veículos, a mobilidade vai além disso, abrangendo o deslocamento de pessoas e cargas pela cidade, inclusive a pé.

Para o arquiteto e urbanista Fayez Rizk, a base para melhorar a mobilidade urbana na Capital Morena começa pelas calçadas.

“Você tem que ter calçada para a pessoa andar. Nas periferias, muitas vezes, é um lixo ou nem existe. A primeira coisa da mobilidade urbana é calçada. A acessibilidade também está ligada a isso, garantindo deslocamento para pessoas com deficiência visual, auditiva ou motora”, explica Rizk.

Outro ponto crítico destacado pelo urbanista é o planejamento urbano, principalmente a Lei de Uso e Ocupação do Solo, atualmente em revisão. “Quando você permite a construção de prédios em ruas residenciais, sem o devido estudo de impacto viário, você gera um trânsito que precisa de estacionamento, semáforo e infraestrutura que nem sempre está pronta para absorver isso”, alerta Fayez.

Campo Grande possui hoje uma frota de 666 mil veículos, superando o número de motoristas habilitados, que é de 484 mil. Na década de 1980, quando a cidade tinha 250 mil habitantes, a frota era de apenas 33 mil veículos. O crescimento exponencial da frota sobrecarrega as vias públicas, gerando congestionamentos em pontos críticos como a Avenida Júlio de Castilho e o cruzamento da Rui Barbosa com a Eduardo Elias Zahran.

Para Fayez, o excesso de veículos também impacta na saúde pública. “O transporte coletivo está caro, e comprar uma moto acaba sendo mais barato. Isso aumenta o número de acidentes. A saúde pública sofre com motociclistas acidentados”, afirma.

Em 2024, o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar registrou 4.168 acidentes com motos na cidade. De janeiro a novembro, 68 pessoas morreram no trânsito, sendo 48 motociclistas.

Os próprios motoristas reconhecem que o comportamento no trânsito é um problema. “A gente precisa cuidar da nossa direção e dos outros também. Falta sinalização e respeito em rotatórias e ultrapassagens”, diz o motorista de aplicativo Danilo Andrade.

O motoentregador Leonardo Ferreira concorda: “O problema do trânsito em Campo Grande é o próprio campo-grandense”.

Atualmente, 460 ônibus atendem cerca de 220 mil passageiros diários em Campo Grande. Para Paulo Oliveira, diretor de operações do Consórcio Guaicurus, aumentar a velocidade dos ônibus é essencial. “Hoje, a velocidade média é de 16 km/h. Com corredores exclusivos, o tempo de espera diminui e o transporte se torna mais eficiente”, explica.

O macroanel rodoviário também é um ponto de atenção. A travessia urbana da BR-163, recentemente debatida pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), deve passar por duplicação para melhorar o fluxo e garantir mais segurança.