Veículos de Comunicação

Preservação

Campo Grande recebe maior evento de conservação do Pantanal

O Fórum Pontes Pantaneiras reuniu cerca de 100 palestrantes em mais de 15 mesas-redondas e painéis, para discutirem o desenvolvimento sustentável do bioma

O Fórum Pontes Pantaneiras reuniu cerca de 100 palestrantes em mais de 15 mesas-redondas e painéis - Foto: Gerson Wassouf
O Fórum Pontes Pantaneiras reuniu cerca de 100 palestrantes em mais de 15 mesas-redondas e painéis - Foto: Gerson Wassouf

Teve início nesta semana o Fórum Pontes Pantaneiras, evento que reuniu autoridades, especialistas, pesquisadores e representantes da sociedade civil que entendem com profundidade o Pantanal entre os dias 16 e 18 de agosto em Campo Grande. O objetivo é discutir soluções e possibilidades para um futuro sustentável no Pantanal, com ênfase em casos bem-sucedidos de valorização da cultura, conservação da biodiversidade e desenvolvimento do bioma.

A coordenadora do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), uma das instituições organizadoras do fórum, Miriam Perilli fala sobre a organização do evento e a preocupação com o Pantanal.

"Esse é um projeto que a gente iniciou esse ano, mas que é fruto de muitas articulações e conversas entre todos que trabalham no Pantanal. O Pantanal nos últimos teve muitos problemas, vimos muitas situações trágicas, como grandes incêndios, e a ideia aqui hoje é celebrar o pantanal e, como o próprio nome diz, fazer pontes e trazer iniciativas positivas para dentro do bioma, conectando instituições, pessoas e projetos", explica.

O Fórum conta com mais de 15 painéis e mesas redondas mediados e debatidos por cerca de 100 convidados de entidades como a Embrapa Pantanal, University College of London, universidades federais do país e entre outras organizações. Entre elas, está a Embaixada e o Consulados dos Estados Unidos no Brasil, que, de acordo com o Cônsul-geral dos EUA em São Paulo, David Hodge, estão preocupados com o desenvolvimento sustentável do bioma.

"A embaixada e os consulados estão sempre envolvidos nos temas de preservação no Brasil, tanto na Amazônia, como em outros biomas como o Pantanal. Esse evento é uma oportunidade para entendermos melhor o que acontece no Pantanal e de que forma podemos ajudar, por meio das rodas de conversa com grandes pesquisadores e instituições", afirma.

Também presente no evento, o governador do estado, Eduardo Riedel, falou sobre o momento oportuno que o fórum é realizado em Mato Grosso do Sul, quando a gestão estadual e autoridades buscam criar a chamada Primeira Lei do Pantanal.

"O evento é extremamente oportuno pelo momento que o estado vive porque ele propõe o diálogo, pontes entre diferentes percepçõe e entendimentos sobre o Pantanal. Então o evento vai nos ajudar a construir ideias e convergências para que a gente possa sair com o melhor produto possível de toda essa discussão em forma de lei"

Nesta quarta-feira foi realizada a cerimônia de abertura e apresentação do espetáculo “Guadakan”, pela Companhia de Dança do Pantanal. 

Confira a reportagem:

Segundo dia 

As reflexões sobre a preservação do Pantanal continuaram nesta quinta-feira, ao todo foram realizadas quatro mesas redondas discutindo assuntos importantes para o desenvolvimento sustentável do bioma. Entre elas, a primeira mesa feita no dia foi a 'Pecuária Sustentável – Experiências e Potencialidades', que se dedicou a trazer o papel importante da cultura da pecuária sustentável pelos povos pantaneiros para mais perto do público. Como conta o mediador da discussão, o pesquisador da Embrapa Pantanal, Walfrido Tomas.

"As atividades econômicas desenvolvidas até hoje, especialmente a pecuária que ocupa 93% do bioma, são totalmente compatíveis com a conservação, tanto é que o Pantanal não tem perdido espécies e está bem conservado, apesar dos incêndios catastróficos de 2020, mas aquilo foi um extremo climático […] Só que existe um movimento de intesificação da pecuária, por exemplo, e isso tem o potencial de ganhar uma escala muito grande, então a gente tem que estabelecer critérios para manter essa pecuária sustentável, ser reconhecida como sustentável e ser valorizada como sustentável", explica.

Em paralelo, era realizada também a mesa de audiovisual para a conservação do Pantanal. Tema que foi mediado pela jornalista especialista no Pantanal e escritora, Claudia Gaigher, que evidenciou de que forma o documentário leva adiante a preocupações do bioma, ultrapassando fronteiras.

"Aqui a nossa grande discussão é como transformar essa linguagem do audiovisual em uma bandeira de conservação, porque através dos documentários, que passam no mundo todo para todos os tipos de pessoas, a gente prograga a mensagem de preservação. E essa é a nossa proposta, trabalhar isso de uma forma que a pessoa que não tem a condição de vir ao Pantanal, de conhecer pessoalmente e pisar nesse chão, consiga se impactar e se emocionar assistindo. Eu acredito que só pela emoção, a gente chega no coração das pessoas", conta.

Samuel Robath é moçambicano e formado em zootecnia em seu país nativo. Neste ano ele veio para o Brasil continuar os estudos e é mestrando em zootecnia pela Universidade Estadual de Maringá. Quando soube do evento, decidiu vir a Mato Grosso do Sul e fala o ponto que acredita ser importante após acompanhar as discussões do segundo dia do fórum.

"Precisamos, cada vez mais, conscientizar as pessoas que estão no Pantanal, dando ideias e alternativas sobre a melhor produção ou introdução de culturas para garantir sua subsistência e alimentação, como é o caso de produção de ortículas, plantação de cereais, criação de coelhos, produção de gado e entre outras espécies da pecuária".

Também da Universidade Estadual de Maringá, o graduando Alexandre Gattas veio do Paraná animado com o evento e fala sobre a importância da inclusão.

"O evento é maravilhoso, é possível estar aqui no auditório com pessoas diferentes, de grupos diferentes. Esse evento consegue integrar tantas comunidades e culturas diferentes que, a partir disso, a gente começa a refletir como o Pantanal é interligado, e como cada pessoa tem a sua função e é tão importante para a gente regular a temperatura, pra gente poder alimentar o Brasil e poder mostrar a nossa diversidade de faune e flora para as pessoas  poderem se paixonar pelo meio ambiente e respeitarem cada vez mais os animais e a natureza".

Confira a reportagem:

O segundo dia do fórum contou ainda com mesa redonda sobre valorização do capital natural do pantanal em benefício dos pantaneiros, um diálogo de experiências falando sobre recursos hídricos e a conservação da bacia do alto paraguai, e lançamento do livro Memórias de um Pantanal, da jornalista e escritora Teté Martinho.

E o evento encerra nesta sexta-feira com reflexões acerca das relações humanas plurais e diversas no território com a mesa redonda “Identidade Pantaneira no mundo atual” e a sessão “Diálogos e Experiências: Sociobiodiversidade Pantaneira”. Ambas contarão com a presença de líderes e representantes das comunidades indígenas, quilombolas, pesqueiras, artesãs e ribeirinhas da região.