18 de maio marca o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. A data foi escolhida porque, em 1973, a menina Araceli, de apenas 8 anos, foi sequestrada, violentada e assassinada neste dia. Seu corpo só foi encontrado 6 dias depois e seus agressores nunca foram punidos.
O caso aconteceu em Vitória, no Espirito Santo. Lá, nasceu Felipe Quintino, que hoje é professor do curso de Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Felipe sequer era nascido naquele ano, mas cresceu ouvindo sobre o crime que, na época, comoveu o país.
50 anos após o caso, ele está lançando um livro-reportagem baseado em documentos do processo, arquivos da imprensa e entrevistas exclusivas com familiares, promotores e jornalistas.
"O livro vem para resgatar o que foi esse caso em si, todo o parâmetro. Levando em consideração o processo judicial que a gente teve acesso. Mais de 12 mil páginas nesse processo. Contar o caso em si, mas fazer a relação desse passado com o presente.”, revela o professor.
Ele reforça que a história, infelizmente, ainda se repete nos dias atuais. “50 anos depois da morte da Araceli, outras meninas e meninos continuam sendo abusados sexualmente. Segundo os dados das pesquisas, são quatro meninas, de até 13, anos estupradas por hora no Brasil. Então como a Araceli é uma representação, vamos dizer assim, de outras crianças, de outras meninas e meninos que continuam sendo vítimas de violência.”
O livro chega no momento em que Campo Grande enfrenta uma “epidemia de casos de violência contra crianças e adolescentes”, como revelou o promotor de justiça do Ministério Público Estadual, Marcos Alex Vera, em coletiva de imprensa sobre a Operação Araceli, na última semana.
Segundo o promotor, o número de medidas protetivas contra crianças e adolescentes é cada dia maior. No ano passado foram expedidos cerca de 200 mandados. Este ano, de janeiro até agora Campo Grande já ultrapassou a marca de 400 medidas protetivas. Mais do que o dobro de 2022.
Monica Lourenço é psicóloga. Por quase 3 anos ela trabalhou na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA) e atendeu a mais de 2 mil crianças. “A criança e o adolescente sempre avisam, mas, na maioria das vezes, não é de maneira verbal. Nós não conseguimos compreender os sinais, mas que elas falam, elas falam. Com o corpo, ou seja, o comportamento do corpo. Eu falo com o meu corpo. Então, esse comportamento vem sempre primeiro, é necessário estar atento, vigilante a isso.”, alerta a psicóloga.
Monica frisa que toda criança tem um padrão de comportamento e os familiares ou pessoas próximas devem ficar atentos às mudanças nesse padrão.
“Medos que ela [a criança] não tinha antes, medo de escuro, de ficar sozinha, ou perto de determinadas pessoas. Mudanças extremas no humor, ou seja, a criança era extrovertida, aí ela passa a ser introvertida, era uma criança tranquila, calma, e passa a ser agressiva. Mudanças também no comportamento com pessoas da família, pessoas específicas. Normalmente, o possível abusador, ou a possível abusadora.”, explica.
Desde o ano passado, a justiça tem mais uma lei para penalizar os criminosos, o que reforça a rede de proteção; A lei Henry Borel, de 2022, garante que qualquer omissão que cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual, psicológico ou dano patrimonial à criança ou adolescente configura violência doméstica.
SERVIÇO
Em caso de suspeita de violência infantil, o Disque 100 funciona diariamente, 24 horas por dia.
Em Campo Grande, a DEPCA funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h30. A delegacia fica na Rua Vinte e Cinco de Dezembro, número 474.
Aons fins de semana, a DEPCA atende em plantão na Depac – Cepol
Denúncias podem ser feitas tambem pelos telefones da DEPCA – (67) 3323-2500 ou 3323-2510