O assassinato da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, na quarta-feira (12), em Campo Grande, a facadas pelo ex-companheiro, reacendeu o debate sobre a eficácia da rede de proteção às vítimas de violência doméstica.
O autor do crime, o músico Caio do Nascimento Pereira, de 34 anos, tem uma extensa ficha criminal, sendo denunciado em pelo menos 14 processos de violência contra a mulher e, desde 2020, foram expedidos sete pedidos de medidas protetivas contra ele.
De acordo com a titular da Delegacia da Mulher, Elaine Benicasa, os inquéritos foram abertos após denúncias de várias vítimas, em diversos períodos. A mãe e a irmã de Caio também constam na relação de vítimas dele.
”Uma pessoa totalmente perturbada, com passagem por roubo, com tentativas de suicídio, e algumas ocorrências de violência doméstica contra a mãe, contra a irmã, contra outras conviventes, de vários crimes. Cada caso é diferente um do outro. São ameaças, lesões…são várias passagens de ocorrência de violência”, informou a delegada.
Feminicídio
No mesmo dia do crime, Vanessa havia denunciado o ex-companheiro, com quem se relacionou por cerca de quatro meses. A Justiça concedeu à ela uma medida protetiva contra Caio, mas ele não chegou a ser intimado.
Outro fato que chama a atenção nesse caso é que Vanessa não foi impedida de retornar à casa onde vivia com Caio para retirar seus pertences, sem acompanhamento policial. Mas a Polícia Civil afirma que a vítima é quem deveria ter solicitado esse atendimento.
“Nós precisamos, com uma medida protetiva, que venha por parte da vítima essa solicitação. Ela não solicitou. […] Nós temos uma parceria junto à guarda (Guarda Municipal). Ela é encaminhada para a guarda e lá há um agendamento para que isso seja efetivamente acontecido, até por conta da alta demanda que nós temos aqui. Mas repito, em nenhum momento ela solicitou essa medida para ter essa retirada de pertence“, disse Benicasa.
O que ainda não foi esclarecido é se a vítima foi informada sobre essa formalidade para receber acompanhamento policial.
A delegada destacou que “foi solicitada a ela que ficasse aqui no abrigo aguardando para que fosse feita a comunicação à ele da medida protetiva. Só que a casa era dela, o ambiente era dela. […] Ela dispensou o abrigamento, entendendo que estaria segura dormindo na casa de um conhecido ou na casa de uma outra pessoa, e foi em casa buscar os pertences“.
Abalado, o irmão de Vanessa, Walker Ricarte, acredita em falhas na rede de proteção à mulher. Para ele, casos como esse não podem se repetir.
“Que a sociedade olhe com mais atenção para assuntos dessa natureza de feminicídio. Que o que aconteceu com a Vanessa, sirva de exemplo para que haja mudança, mais compromisso das autoridades”, desabafou.