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CASO SOPHIA

Assassinos de Sophia têm 52 anos de pena

Júri de Campo Grande se mobilizou para decidir a sentença dos acusados do crime que gerou comoção nacional

Réus no momento que receberam a sentença
Réus no momento que receberam a sentença | Foto: Duda Schindler/ Rádio CBN-CG

Após dois dias de intenso trabalho no Tribunal de Júri de Campo Grande, Stephanie de Jesus e Christian Campoçano receberam a sentença de 52 anos pela morte de Sophia Ocampos, 2 anos e 7 meses, ocorrida em 2023.

Stephanie, mãe da menina, recebeu a sentença de 20 anos, acusada de homicídio triplamente qualificado por se omitir do dever de cuidar ao ponto de permitir o assassinato. Já Christian, padrasto de Sophia, recebeu a pena de 32 anos, sendo 20 anos pelo crime de homicídio doloso – quando há intenção de matar -; por motivo fútil e meio cruel e 12 anos pelo crime de estupro de vulnerável.

Jean Ocampos e familiares da vítima. Foto: Duda Schindler/ Rádio CBN CG

Com todas as cadeiras ocupadas, o Plenário acompanhou atentamente o desenrolar dos argumentos da defesa dos culpados e da acusação. Na segunda fileira estava o pai de Sophia, Jean Ocampos que aguardou o resultado junto com familiares da criança.

Abalado com o desenrolar do julgamento, o pai optou por não falar com a imprensa.

O caso gerou comoção nacional, o juiz Aluízio Pereira, que presidiu o julgamento avaliou a repercussão do caso e aponta a necessidade de estar preparado para as situações que podem ocorrer. “É um processo complexo, né? De repercussão pública, exatamente por envolver criança, ainda mais nas circunstâncias em que esse crime ocorreu […] a gente [Poder Judiciário] deve estar preparado para enfrentar esses desafios, para que os trabalhos tenham o início, o meio e o fim”.

Os culpados

Stephanie durante interrogatório. Foto: Duda Schindler

Durante os dois dias de julgamento Stephanie se mostrava abatida, com olheiras profundas e o olhar sempre para baixo. Durante seu interrogatório – que foi realizado no primeiro dia -, ela afirmou que era vitima de violência doméstica, e que o verdadeiro culpado era Christian.

“Me sinto injustiçada por não ter feito nada com minha filha, por amá-la. Sofri agressões físicas, psicológicas, fui manipulada […] Ele dizia que eu ficaria sem as duas [sem a Sophia e sem a irmã], e no fim fiquei mesmo. Ele acabou com a minha vida”, desabafou.

Christian durante interrogatório. Foto: Mateus Adriano

Durante o segundo dia do julgamento, Christian foi interrogado. Com postura ereta, ele respondeu às perguntas negando ser o responsável pela morte de Sophia. Ao contrário de Stephanie – que quando interrogada afirmou que o culpado pela morte de sua filha era o padrasto -, Christian não fez acusações diretas à companheira.

“Não posso afirmar o que não vi”, repetia inúmeras vezes.

Defesa

A narrativa adotada pela defesa de Stephanie estava clara: ela era uma mulher vítima de violência doméstica que vivia sob constantes ameaças.

A defesa da mãe arrolou duas testemunhas, uma amiga da ré e o psicólogo forense Felipe de Martino Gomes, que apontou hipóteses diagnósticas – que é uma suposição inicial feita por um profissional de saúde sobre a condição médica que pode estar causando os sintomas apresentados pelo paciente -, sobre Stephanie.

De acordo com o médico, a ré apresentava sintomas que poderiam ser ocasionados por transtorno de estresse pós traumático, transtorno de ansiedade, quadro depressivo e síndrome de Estocolmo.

O advogado de defesa de Stephanie, Alex Viana, aponta que a tese principal utilizada era de que a mãe “não foi omissa pois estava dentro do ciclo de violência doméstica”. Viana ainda relata que há um julgamento de Habeas Corpus em andamento. Segundo o advogado ele pode anular a condenação.

“Tem um julgamento do HC [Habeas Corpus] que a gente tá procurando anular a pronúncia, anular todo o julgamento pelo excesso de linguagem. Hoje nós fizemos todo o possível […] nós saímos com essa condenação, mas as nossas chances do recurso no HC do STJ de anular a pronúncia são grandes”, frisou Viana

Já a defesa de Christian optou pela narrativa de ser um homicídio culposo – quando não há intenção de matar. A tese apresentada pelos advogados foi de que Sophia faleceu devido à falta de aptidão técnica para realizar manobra cardiorrespiratória de Christian.

A defesa do réu arrolou cinco testemunhas, entre eles amigos do casal e a mãe de Christian. Um dos amigos foi Matheus Siqueira, que conhecia o padrasto desde a adolescência. Durante o testemunho, Matheus afirmou que frequentava a casa do casal diariamente e que aos finais de semana era comum, ele e outros conhecidos, reunirem-se na casa do casal para consumir drogas, entre as substâncias está cocaína.

Matheus relatou que na madrugada que antecedeu a morte de Sophia, ele e Stephanie saíram para comprar o entorpecente.

Nos argumentos levantados pela defesa, foi durante a manhã do dia 26 que Sophia passou mal. Durante o debate, os advogados mostraram áudios trocados entre Sophia e Christian durante a tarde do dia 26. Em um dos áudios apontados o réu confessa o crime.

“Mentira, não, como que acontece isso? […]Eu sou um lixo de pai […] É tudo culpa minha, como eu não percebi? como? […] Eu não sei o que fazer, eu sou um pai lixo, eu só tinha um papel” , fala Christian após receber a notícia da morte de Sophia.

Segundo o advogado de defesa do réu, Renato Prado, o resultado da sentença nunca é a pretensão do advogado. Quando questionado sobre entrar com o recurso, ele respondeu que é o momento de descansar após dias de trabalho intenso. “A gente precisa também um pouco de descanso para que dentro dos cinco dias, que a própria Lei oferece, a gente possa de maneira mais oxigenada, pensar se haverá ou não recurso”, declarou Prado.

Caso Sophia

Crime atroz chocou Mato Grosso do Sul

Sophia de Jesus Ocampos, de 2 anos e 7 meses, morreu em 26 de janeiro de 2023, em Campo Grande. Durante a tarde daquela quinta-feira (26/1/2023), a mãe levou a criança já sem vida à UPA do bairro Coronel Antonino.

Chegando lá, os médicos plantonistas examinaram a criança e constataram que ela estava morta há pelo menos 4 horas, devido a rigidez cadavérica. O laudo de necropsia apontou um traumatismo na coluna cervical como causa da morte. O documento também mostrou que a criança havia sito violentada sexualmente há, no mínimo, 21 dias, devido ao rompimento do hímen.

Sophia já havia sido atendida com frequência em unidades de saúde. O prontuário médico da criança mostra que ela recebeu ao menos 30 atendimentos, entre eles por fratura na tíbia.

A morte de Sophia acendeu a discussão sobre a rede de proteção para crianças e adolescentes, além da reativação do Programa de Proteção às Crianças em Mato Grosso do Sul e a criação do Fórum Permanente pela Vida de Mulheres e Crianças (MCria).

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