Os homens negros são as maiores vítimas de homicídios por arma de fogo em Mato Grosso do Sul, segundo pesquisa do Instituto Sou da Paz. A média é de 23,7 casos a cada grupo de 100 mil homens. São oito casos a mais do que contra homens não negros, que têm média de 15,3 mortes a cada grupo.
Segundo o sociólogo Daniel Miranda, isso se deve a alguns fatores de risco e às situações de vulnerabilidade vividas por homens negros. “A gente sabe que a maioria dos negros no Brasil é pobre e a maioria dos pobres no Brasil é negra, então isso aumenta, é claro, a exposição dessas pessoas ao aliciamento por parte do crime organizado. E o crime organizado é um dos principais fatores de homicídio no Brasil”.
“A ação policial geralmente é mais letal, estatisticamente falando, quando você trata de pessoas negras do que de pessoas brancas. Além disso, homens negros, pessoas negras de modo geral, incluindo os homens, têm acesso ao sistema de saúde mais precário. O acesso mais precário ao sistema de saúde tem uma cobertura menor e assim por diante”, completou o sociólogo.
Taxa de mortes
O índice (23,7) ainda é menor que o de outros estados brasileiros, como o vizinho Mato Grosso, que tem 39,9 casos a cada grupo de 100 mil homens, ou o Amapá, que tem a maior proporção do Brasil, com taxa de 97,1 mortes de homens negros por arma de fogo a cada grupo.
Essa diferença, porém, pode estar ligada à falta de conhecimento das pessoas sobre a própria origem, segundo o desembargador e professor de direito penal Ruy Celso.
“Mato Grosso do Sul tem um número muito pequeno de pessoas da raça negra. Na última estatística, que foi feita em 2022, apenas 6,5% das pessoas se declararam da raça negra. Nós temos um número expressivo de pessoas que se declaram da raça parda, outras raças que se confundem, mas não o negro especificamente, que faz parte dessa pesquisa”.
Em Campo Grande, a taxa de homicídios de homens negros por armas de fogo é duas vezes maior do que a de homens não negros. Na Capital, são 31,4 mortes de homens negros a cada grupo de 100 mil. Não negros representam 14,6 vítimas a cada 100 mil homens.
Fronteiras
Mas a desigualdade não existe apenas na Capital. Segundo o desembargador, as fronteiras do estado também são pontos que demandam atenção.
“As disputas de poder em relação ao tráfico de drogas e ao contrabando levam à letalidade. Isso acaba atingindo a raça negra, pois essas pessoas são acolhidas pela criminalidade, por serem classes vulneráveis e quase não terem alternativas”.