De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), apenas em 2023, foram diagnosticados 27 casos de leishmaniose em humanos em Campo Grande. Deste total, três perderam a vida em decorrência da doença. Para discutir o tema, nesta segunda-feira (07) foi realizada na Câmara Municipal, a audiência pública de enfrentamento à leishmaniose.
O debate foi proposto pelo vereador Prof. André Luis, que integra a Comissão Permanente de Defesa, Bem-estar e Direito dos Animais. Entre os pontos discutidos com autoridades públicas e representantes da causa animal, o vereador, que é médico veterinário e mestre em Imunologia das Leishmanioses, falou sobre a importância do diagnóstico da doença em humanos e esclareceu mais uma vez sobre o tratamento em cães infectados.
“É um problema que tem que ser combatido. A gente tem uma mudança climática que impacta muito negativamente, então apesar de tudo que a gente faz intervenções artificiais com uso de inseticidas, o aquecimento global tende a piorar o quadro dessas doenças[…] a eutanásia de animais já se mostrou como uma maneira ineficaz de combate a doença, um a vez que você elimina o animal contaminado e deixa outro mais vulnerável a doença”.
O especialista apresentou ainda que diferente do que muita gente acredita, a leishmaniose é uma doença só de mamíferos e não somente do cão.
“A leishmaniose não é uma doença apenas de cachorro. Morcego, rato, gato e ser humano também têm e podem ser reservatórios. A leishmaniose é transmitida por meio da picada do mosquito flebotomíneo contaminado”.
Baseado no número de coletas do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), no ano passado foram realizados 10.982, o índice de positividade foi de 22%. Até junho de 2023 foram 2.079 exames, neste ano, o índice está em torno de 35%. Em relação aos dados estaduais, de acordo com a Secretaria de Estado de Saúde, até julho foram 79 casos notificados, 8 pessoas perderam a vida pela doença.
Entre os representantes presentes na audiência pública, a coordenadora do CCZ, Claudia Macedo. A veterinária ressaltou que a leishmaniose como uma doença negligenciada traz inúmeras consequências para a sociedade.
“É uma doença que acomete principalmente os países pobres que têm dificuldades de saneamento básico, no acesso básico de saúde então é importante nós discutirmos as políticas públicas que podem nos ajudar nesse enfrentamento. Somente a eutanasia é uma medida de controle que o Ministério da Saúde mantém porém outros tratamentos já tem o seu protagonismo nesta causa”.
Por estar em uma região endêmica, a Sesau estima que Campo Grande mais de 20% da população canina do município esteja contaminada pelo vírus.
Seguindo orientação do Ministério da Saúde, quando há o diagnóstico da doença, o CCZ explica ao tutor sobre quais são as opções de conduta, que pode ser a eutanásia do animal, uma vez que não é possível a cura da doença, ou o tratamento para redução dos sintomas e, assim, garantir uma qualidade de vida melhor ao animal.
Ativista da causa animal, Lígia Santos, 58, aposentada que também participou da audiência, cobrou ação efetiva dos órgãos públicos. Ela que acolhe animais há 6 anos, atende hoje 15 cachorros, 10 estão disponíveis para a adoção e 5 adotados definitivamente
“Essa discussão é importante, mas ela tem que sair do escritório e tem que ir lá para o Jardim Columbia, que é um ponto de desova. Tem que sair do ar-condicionado, das super salas, dos supersecretários, tem que ir lá no Indubrasil, no Nova Lima que serve de campo de desova, porque até agora o estado e o município só estão fazendo coisa instagramáveis”.
Com 104 animais acolhidos, Sônia Palhano, protetora da causa animal, explicou que atualmente do total de cachorros abrigados, 47 são positivos para a leishmaniose. Para garantir os cuidados ela conta com a boa vontade de outras pessoas.
“Eu faço o uso da fórmula, cedida pelo Professor André Luis. Esta é uma doença terrível que mas se você cuidar tratar o animal pode sobreviver tranquilamente”.