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CONTROLE BIOLÓGICO

Combate a pragas em florestas de eucalipto substitui agrotóxicos por joaninhas

Técnica foi pesquisada em MS durante dois anos e está sendo implantada em vários estados

Soltura de joaninhas a campo – Fotos: Divulgação/Suzano
Soltura de joaninhas a campo – Fotos: Divulgação/Suzano

Com mais de 10 milhões de hectares plantados, o Brasil ocupa posição de destaque entre os maiores produtores mundiais de celulose e produtos florestais. Mas o setor florestal enfrenta atualmente um de seus maiores desafios: o psilídeo-de-concha (Glycaspis brimblecombei), uma praga originária da Austrália que chegou ao Brasil há mais de 20 anos e se disseminou rapidamente pelas plantações de eucalipto.

Utilizando diversas espécies do gênero Eucalyptus como hospedeiras, o inseto causa prejuízos ao desenvolvimento das árvores e impacta diretamente a produtividade.  A Embrapa estima que o psilídeo-de-concha pode causar perdas de produtividade de até 30%.

Folhas de eucalipto infestadas pelo psilídeo-de-concha – Foto: Reprodução/UFMG

De acordo com dados do Programa Cooperativo sobre Proteção Florestal (PROTEF), a ocorrência da praga aumentou mais de 65% no país entre 2020 e 2023, acendendo um alerta para produtores e pesquisadores.

A busca por alternativas sustentáveis para o controle do inseto tem mobilizado iniciativas inovadoras, como o uso de joaninhas nativas em larga escala — estratégia recentemente adotada por empresas do setor, como a Suzano, com resultados promissores.

Controle natural e sustentável

O uso de joaninhas para combater o psilídeo-de-concha vem sendo adotado nos estados de Mato Grosso do Sul, Maranhão e São Paulo pela Suzano, a maior produtora mundial de celulose.

Joaninha Olla v-nigrum – Foto: Reprodução/Biofaces

Esta semana, a empresa informou que, em 2024, a partir do controle biológico do psilídeo-de-concha com joaninhas da espécie Olla v-nigrum, nativa do Brasil, em uma área de 57 mil hectares cultivados com eucalipto, evitou o uso de 17,1 mil quilos de defensivos agrícolas.

Com a técnica de controle natural e sustentável, a empresa também registrou uma economia financeira superior a R$ 3 milhões.

Pesquisa avançou em MS com parcerias

Antes de adotar esse manejo, a Suzano dedicou dois anos a pesquisas que reuniram quatro entomologistas especializados no comportamento das joaninhas. O projeto começou em 2022, com a identificação de populações nativas da joaninha durante surtos da praga do eucalipto em Mato Grosso do Sul, São Paulo e Tocantins.

A equipe conduziu os estudos na Unidade Florestal de Três Lagoas (MS), onde as joaninhas foram criadas em laboratório com simulação do ambiente natural. Esse trabalho contou com apoio da Faculdade de Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp, da Embrapa Florestas e da Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Joaninhas Olla v-nigrum – Divulgação/Suzano

Em 2023, a técnica de reprodução em larga escala foi finalizada, permitindo que, no ano seguinte, mais de 210 mil joaninhas fossem soltas nas áreas de plantio da companhia.

No ambiente natural, o equilíbrio ecológico evita a superpopulação desses insetos, já que sua sobrevivência depende da presença da praga-alvo e de predadores naturais.

A adaptação das joaninhas ao ambiente ocorre rapidamente: em menos de dois dias, elas exploram o território em busca de alimento e, em condições adequadas de temperatura (entre 20°C e 37°C) e umidade, iniciam a reprodução em até uma semana.

 O uso de joaninhas para combater pragas em plantações, principalmente em hortaliças, não é novidade no Brasil, mas o método é pioneiro no cultivo de eucalipto e deve ampliar o potencial de aplicação do controle biológico na silvicultura brasileira.

Psilídeo-de-concha

Psilídeo-de-concha em fase adulta e de ninfa. Fotos:Reprodução/ Ipef

O psilídeo-de-concha foi identificado no Brasil pela primeira vez em 2003 e representa uma ameaça devastadora para o setor de florestas plantadas.

O inseto deposita seus ovos nas folhas de eucalipto, e suas crias (ninfas) causam mais danos às plantas ao se alimentarem do floema – que conduz a seiva elaborada.

Os danos causados por este inseto incluem descoloração das folhas, desfolhamento e a morte das pontas das folhas, impactando, por fim, a produção de madeira.

A estratégia natural de combate à essa praga, segundo a Suzano, alia inovação e sustentabilidade ao reduzir a dependência de produtos químicos, valorizar a biodiversidade e mitigar impactos ambientais, contribuindo para um modelo de produção florestal mais sustentável.