“O esporte me encontrou”. É com sentimento na voz que o paratleta Dalton Andrade, 22 anos, conta sua história com o esporte. Andrade representa Mato Grosso do Sul na categoria T11 (cegos) no atletismo, nas provas de 100m e 200m.
Andrade nasceu com Glaucoma Congênito, uma má formação no sistema de drenagem dos olhos e com apenas cinco anos de idade já não enxergava com o olho direito. Aos 15 anos, o paratleta contraiu uma infecção após uma cirurgia e perdeu totalmente a visão. “A infecção afetou minha retina, rasgou ela e aí eu perdi completamente a visão”.
Após perder a visão, Dalton encontrou no esporte uma maneira de ressignificar a vida. “Eu estava deprimido por perder a visão no auge da adolescência, quando eu planejava sair com amigos e curtir essa fase, mas foi nesse momento que o esporte me achou”. Dalton relata que ele tinha duas escolhas: ficar em casa ou ir em busca do seu sonho.
“Eu não imaginava ser um grande velocista, um grande atleta. O atletismo me transformou, sou apaixonado pela modalidade. Olha onde eu cheguei, eu sou capaz de muita coisa ainda”, declara Dalton.
O velocista começou sua caminhada no paradesporto no futebol de 5, uma modalidade do futebol exclusiva para pessoas cegas em que apenas o goleiro pode enxergar. Em 2017, ele recebeu o convite para participar dos jogos escolares onde se apaixonou pelo atletismo.
Daniel Sena, vice-presidente da Associação Sprint Social de Mato Grosso do Sul e treinador do Dalton aponta o esporte como ferramenta de transformação. “A sociedade acha que pessoas com deficiência são incapazes, através do esporte mostramos que isso não é verdade, com comprometimento os limites podem ser ultrapassados”, destacou.
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), Em Mato Grosso do Sul, 404.663 mil pessoas possuem algum tipo de deficiência visual, seja grande ou pequena dificuldade de enxergar.
Amanda Velasco, coordenadora do Centro de Referência Paralímpico de Campo Grande afirma que, atualmente, 43 atletas com deficiência visual praticam alguma modalidade do paradesporto, na Capital. Dentro do Centro de Referência, a população com deficiência pode acessar a prática esportiva de maneira gratuita.
“O Centro de Referência Paralímpico é um programa que vem do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) que disponibiliza atividade esportiva para todas as idades, desde infância até a fase idosa”.
Apesar dos programas esportivos que incluem as pessoas com deficiência, ainda existem diversas barreiras que a população encontra no estado. Para Dalton, que reside em Campo Grande, a acessibilidade fica restrita ao centro da capital. “Falta sinalização. No centro é tudo bonito, tem piso tátil, mas nos bairros não é assim. Calçadas são desniveladas, tem poste ou árvore no meio e isso dificulta a nossa vida”.
Mesmo com as dificuldades, o velocista está terminando a licenciatura em Educação Física pela Universidade Católica Dom Bosco, e, após se aposentar das pistas, pretende se tornar treinador e passar seus conhecimentos para outra geração de atletas. “Só paro de correr quando meu corpo falar ‘Dalton chega, não dá mais!”.
Dalton conta sua história com alegria e sorriso no rosto e, mesmo com as dificuldades, deixa o recado para as pessoas não desistirem dos seus sonhos. “Não é o fim do mundo ter uma limitação. Nada é fácil, mas tanto o esporte como o ensino ajudam a superar as limitações”.