Um estudo nacional inédito sobre colesterol hereditário está sendo conduzido com a participação de pesquisadores de Mato Grosso do Sul. O projeto, coordenado pelo Hospital HCor de São Paulo e financiado pelo Ministério da Saúde por meio do Proadi-SUS, está em andamento no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (Humap-UFMS), em Campo Grande.
O foco é a hipercolesterolemia familiar, uma condição genética que eleva os níveis do LDL — o chamado “colesterol ruim” — e está diretamente ligada a infartos e AVCs em pessoas ainda jovens.
A cardiologista Adriana Lugo Ferrachini, responsável pelo estudo no estado, participou ao vivo nesta segunda-feira (14) do quadro Saúde é Massa, no programa Microfone Aberto, e explicou os riscos da doença.
“Ela é uma alteração genética que provoca o aumento do colesterol ruim, que forma aquelas placas de gordura nas artérias. Essas placas podem se romper ou obstruir completamente a passagem de sangue, levando a infarto ou AVC em idades precoces — abaixo de 60 anos nas mulheres e 55 nos homens”, explicou a médica.
Segundo Adriana, a doença é subdiagnosticada, embora esteja presente em todo o mundo. O risco aumenta com o histórico familiar e pode passar despercebido até a ocorrência de um evento grave, como um infarto.
“Hoje a gente encontra paciente infartado aos 40 anos e só então descobre que ele tinha colesterol alto desde a infância”, alertou.
Diagnóstico e prevenção
A recomendação, de acordo com a especialista, é que todas as pessoas façam exames de colesterol a partir dos 10 anos de idade, ao menos uma vez por ano. Sinais clínicos como acúmulo de gordura em articulações e ao redor dos olhos também podem indicar a condição.
A pesquisa em andamento vai testar uma dieta cardioprotetora baseada em alimentos típicos brasileiros, aliada ao uso de fitosteróis e óleo de krill, ambos de origem natural. Os voluntários são acompanhados por quatro meses, e o estudo completo deve durar de um a dois anos até atingir o número necessário de participantes.
“O objetivo é testar esses suplementos, mas principalmente diagnosticar precocemente. Esse é o maior ganho do estudo”, afirmou Adriana.
Como participar do estudo
A pesquisa está aberta à participação de voluntários com 16 anos ou mais que apresentem colesterol alto. Os interessados podem entrar em contato com o centro de pesquisa do Humap pelo telefone (67) 3345-3352 — atendimento no período da tarde hoje, e durante todo o dia a partir de amanhã.
Hoje (14) e na próxima quinta-feira, o hospital realiza ações de triagem para novos participantes no período da manhã.
Custo zero e foco em saúde pública
O estudo não envolve o uso de medicamentos experimentais, o que, segundo Adriana Lugo, é um ponto importante para tranquilizar a população. “Não se trata de nada invasivo. Estamos falando de uma dieta equilibrada e produtos naturais. O risco é zero”, explicou.
O financiamento do estudo é feito por meio do Proadi-SUS, que atua em parceria com grandes hospitais do país. Os recursos são administrados por essas instituições, que repassam os valores aos centros de pesquisa regionais.
“Se os resultados forem positivos, a ideia é que esses suplementos e a dieta sejam disponibilizados à população. E é isso que buscamos: soluções reais, seguras e acessíveis para melhorar a qualidade de vida das pessoas”, finalizou a cardiologista.