As mudanças climáticas têm intensificado a seca prolongada, um fenômeno que se agrava a cada ano, o que contribui diretamente para o aumento dos incêndios no Pantanal. Além disso, as condições climáticas adversas, como chuvas abaixo da média histórica, agravam ainda mais a situação.
Dados do Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima (Cemtec) apontam um déficit de mais de 200 mm de chuva entre novembro de 2024 e fevereiro de 2025, e de 400 mm no ano anterior. Com o clima cada vez mais imprevisível, o futuro do Pantanal depende de ações contínuas de prevenção e manejo do fogo, exigindo um esforço conjunto entre pesquisadores, autoridades e a população local.
Apesar dos incêndios, o fogo desempenha um papel importante no ecossistema pantaneiro. Quando manejado corretamente, ele pode contribuir para a regeneração da vegetação e o equilíbrio do bioma. Desde 2021, uma pesquisa liderada pelo doutor em biologia Geraldo Damasceno Júnior, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), busca entender como o bioma se recupera após os incêndios, especialmente após o intenso fogo de 2020.
“O Pantanal é forjado no fogo, por isso tem resiliência a ele. Algumas áreas se recuperam em dois meses, mas a intenção da pesquisa é avaliar o melhor período para realizar o manejo do fogo e evitar grandes incêndios no futuro”, afirmou Damasceno.
A pesquisa da UFMS busca compreender como o fogo e a inundação, fenômenos típicos do Pantanal, influenciam a estruturação do bioma a longo prazo, especialmente nas áreas inundáveis. As mudanças climáticas têm trazido secas mais intensas e frequentes desde 2018, afetando a regeneração da vegetação e tornando o bioma mais vulnerável.
Carlos Padovani, pesquisador da Embrapa Pantanal, destacou que o Pantanal está vivenciando um ciclo de seca mais longo e extremo, com secas mais intensas do que nas últimas décadas.
“O bioma está em um ciclo de secas que não ocorriam desde a década de 60, e o fogo se espalha mais facilmente devido ao aumento das ondas de calor”, afirmou Padovani.
De acordo com Renato Roscoe, doutor em ciências ambientais e engenheiro agrônomo. O fogo é um componente natural do bioma Pantanal, e todos os biomas campestres no Mundo.
“O desafio é a frequência dos incêndios. Quando a frequência dos incêndios é maior do que seria natural para o bioma. Outro ponto é o uso da queima controlada para reduzir o acúmulo de resíduos e prevenir incêndios catastróficos.“, destacou Roscoe.
A pesquisa também investigou o uso controlado do fogo como parte do manejo integrado. O objetivo é desenvolver ações educativas e de queima prescrita para reduzir a probabilidade de incêndios florestais e estudar o impacto do fogo nas diversas paisagens do Pantanal, incluindo os campos inundáveis, áreas de pastagem, fauna e flora.
O Pantanal, um dos biomas mais preservados do mundo, possui uma dinâmica única de cheia e seca, moldada não apenas pela água, mas também pela influência do fogo. Com 84% da vegetação nativa preservada, o bioma sul-mato-grossense tem demonstrado resistência ao fogo, que é um fenômeno natural em sua história. No entanto, é essencial entender e aplicar práticas de manejo sustentável para garantir a preservação deste ecossistema único.