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LUTO

Feminicídio de jornalista provoca comoção e propostas de mudanças na lei

Leis mais rígidas e criação de cadastro para quem comete violência doméstica são algumas das propostas

Coroas de flor já foram levadas a Câmara Municipal de CG para o velório - Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG
Coroas de flor já foram levadas a Câmara Municipal de CG para o velório - Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG

A morte da jornalista Vanessa Ricarte, de 42 anos, vítima de feminicídio em Campo Grande deixou amigos, familiares e colegas consternados e indignados.

Reunidos no começo da tarde desta quinta-feira (13) na Câmara Municipal de Campo Grande, onde será o velório da vítima, as pessoas mais próximas da jornalista lamentaram a perda e demonstraram muita emoção ao falar sobre ela.

“Um grande amor e uma inspiração”

O ex-namorado de Vanessa, Renan Nucci, falou emocionado sobre a relação que manteve com ela ao longo de anos, com encontros e desencontros. “Ela era uma inspiração. Uma pessoa muito doce, querida e profissionalmente competente. Vanessa me ajudava a ser melhor”, contou.

Apesar do término da relação em 2022, Renan revelou que nunca deixou de pensar em Vanessa com carinho e ficou devastado ao saber do crime.

“Ontem de manhã fui realizar uma atividade que sempre fazia com ela, e pensei em como será que ela estava?! E horas depois eu recebo a notícia da morte. […] É um soco na cara. Você nunca está preparado para perder um grande amor dessa forma. Ela não merecia isso. A Vanessa era uma mulher incrível e o recorte da vida dela não pode ser reduzido ao que esse assassino fez. Ela era muito mais do que isso”, desabafou.

Renan também anunciou sua intenção de propor iniciativas para honrar a memória da jornalista, como uma campanha de combate ao feminicídio que leve o nome de Vanessa.

Corpo da jornalista chegará na Câmara Municipal por volta das 20h – Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG

Uma voz pela igualdade

Vanessa se destacou em diversas frentes profissionais. Além de ser da Assessoria de Comunicação Social do Ministério Público do Trabalho, em Campo Grande, cargo que ocupava há um ano e sete meses, a jornalista também atuava em um programa dedicado ao empreendedorismo feminino de uma cooperativa de crédito. A assessora da cooperativa, Jô Castro, destacou a importância de Vanessa no projeto.

“Ela era inspiradora. Uma pessoa que abraçava as causas e conectava mulheres. Sua atuação fortalecia o protagonismo feminino e a inclusão social. Sua perda foi um baque enorme, principalmente por ser alguém que defendia as mulheres e acabou vítima da violência que combatia”, disse Jô.

Luto e revolta

Cantora Marta Cel durante velório de Vanessa – Foto: Fernando de Carvalho/CBN-CG

A cantora Marta Cel, que trabalhou com o autor do crime em projetos musicais, revelou preocupações antigas com o comportamento do agressor.

“Havia algo no comportamento dele que chamava atenção. Ele chegou a me enviar mensagens ameaçadoras quando comentei com amigos sobre isso”, relatou.

Marta destacou a personalidade vibrante de Vanessa, que também a assessorou em um show. “Vanessa era uma mulher independente, cheia de vida e que lutava por outras mulheres. É revoltante que uma pessoa tão incrível tenha sido vítima de algo assim. Precisamos de leis mais rígidas para evitar tragédias como essa.”

O presidente do Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso do Sul (Sindjor-MS), Walter Gonçalves Filho, lamentou o feminicídio e criticou a falta de mecanismos eficazes de proteção. “Não adianta ter medidas protetivas de fachada. Vanessa pediu ajuda pela manhã e foi assassinada à tarde. Isso é inadmissível”, declarou.

Walter defendeu a criação de um cadastro nacional de agressores e a reestruturação de varas especializadas em violência doméstica no estado. “Precisamos de uma resposta efetiva das autoridades e da sociedade para proteger as mulheres e evitar mais tragédias, e o sindicato irá cobrar das autoridades competentes essa resposta. Vamos propor a criação do cadastro da violência contra a mulher, igual tem o cadastro de pedófilos.”