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EDUCAÇÃO

Inclusão em números não garante educação de qualidade para alunos com deficiência, alerta professor da UFMS

Especialista afirma que falta de estrutura e formação pode transformar avanço nas matrículas em dado vazio

Falta de estrutura e formação pode transformar avanço nas matrículas em dado vazio - Foto: Reprodução/Governo de MS
Falta de estrutura e formação pode transformar avanço nas matrículas em dado vazio - Foto: Reprodução/Governo de MS

O avanço de 71,78% nas matrículas de estudantes da educação especial em Mato Grosso do Sul nos últimos dez anos, divulgado pelo Censo Escolar 2024, não é sinônimo de inclusão real. Para o professor de pedagogia e psicologia na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e especialista em educação, Antônio Carlos do Nascimento Osório, o número crescente de alunos com deficiência nas escolas é um reflexo das mudanças nas políticas públicas, mas a matrícula, por si só, está longe de representar acesso pleno à educação.

“O que você tem que garantir, além da matrícula, é a sensibilidade do aluno na escola. E aí já começa o nosso primeiro problema. A sensibilidade não significa estar matriculado. Ela é muito mais ampla. É a estrutura da escola, é a professora preparada… e vai embora”, afirma o docente.

De 2014 para 2024, o total de estudantes da educação especial no estado passou de 17.120 para 29.410. Segundo Osório, esse crescimento também está relacionado à extinção progressiva das chamadas “salas especiais”, que levou à inserção de alunos com deficiência nas turmas regulares.

Isso, por um lado, ampliou o alcance da inclusão; por outro, expôs deficiências estruturais no sistema educacional.

“Os professores da educação especial, ou melhor, os que atuam nela, são convocados. Nunca tivemos concurso para essa área no estado. E há contratação de profissionais que nem sempre têm formação adequada. Isso gera um déficit pedagógico. Não é só uma questão salarial, mas de condições reais para lidar com esses alunos”, explica.

A crítica vai além da falta de concursos e se estende à própria cultura escolar, que, segundo o professor, ainda reproduz práticas que não consideram a diversidade dos alunos em sala de aula.

O preconceito, de acordo com Osório, ainda é um dos principais entraves da educação inclusiva.

“As pessoas não sabem lidar com a diferença. A raiz da educação especial é o preconceito e a desvalorização. A escola não se adapta ao aluno — mantém uma prática tradicional. E a crise é ainda maior porque os professores, hoje, têm dificuldade até com alunos tidos como ‘normais’, diante de problemas como violência e indisciplina”, avalia.

Para o especialista, o caminho para que a inclusão vá além dos números passa por investimentos em formação continuada, realização de concursos públicos específicos para a área e melhora nas condições de trabalho.

“Sem estrutura, sem formação, sem valorização, a gente não tem inclusão. Tem número, só número”, resume.