Veículos de Comunicação

ECONOMIA

Investimento direto no Brasil cai 41% em março e acende alerta sobre contas externas

Queda nos investimentos de longo prazo reduz margem de segurança para cobrir o déficit em transações correntes

Queda nos investimentos de longo prazo reduz margem de segurança para cobrir o déficit em transações correntes - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Queda nos investimentos de longo prazo reduz margem de segurança para cobrir o déficit em transações correntes - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O investimento direto no país (IDP), considerado a principal fonte de financiamento do déficit externo brasileiro, registrou forte queda em março de 2025. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, os ingressos líquidos somaram US$ 6 bilhões no mês, valor 41% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado, quando entraram US$ 10,2 bilhões.

A retração acende um alerta, já que o país continua registrando déficit nas transações correntes — conjunto de operações que mede o fluxo de bens, serviços e rendas entre o Brasil e o exterior.

Em março, o déficit foi de US$ 2,2 bilhões, um recuo em relação ao saldo negativo de US$ 4,1 bilhões observado no mesmo mês de 2024.

O que são transações correntes?

As transações correntes representam a diferença entre o que o país recebe e o que paga para o exterior em exportações, importações, prestação de serviços e rendimentos (como lucros, dividendos e juros).

Quando há déficit, significa que o Brasil gastou mais do que arrecadou nessas operações, precisando cobrir essa diferença com entradas de investimentos ou reservas.

Em março, o déficit nas transações correntes acumulado em 12 meses chegou a US$ 68,5 bilhões, o equivalente a 3,21% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar de menor que o percentual de fevereiro (3,28%), o valor ainda é considerado elevado.

Desempenho dos principais componentes

A balança comercial de bens foi o destaque positivo: exportações de US$ 29,4 bilhões, crescimento de 5,3% em relação a março de 2024, geraram superávit comercial de US$ 7,6 bilhões. As importações cresceram menos, 0,9%, totalizando US$ 21,8 bilhões.

Por outro lado, a conta de serviços ampliou seu déficit para US$ 4,4 bilhões, puxada pelo aumento das despesas com propriedade intelectual, transporte e aluguel de equipamentos.

Gastos líquidos com viagens internacionais também subiram, ainda que de forma mais moderada.

A conta de renda primária, que inclui lucros, dividendos e juros remetidos ao exterior, registrou déficit de US$ 5,8 bilhões, 13,4% menor que o de março de 2024.

Menos dólares para financiar o déficit

Tradicionalmente, o investimento direto no país — que envolve aportes em empresas e projetos de longo prazo — é o principal responsável por cobrir o déficit das contas externas. A queda no IDP, portanto, reduz a margem de segurança para financiar as transações correntes sem recorrer a endividamento externo ou às reservas internacionais.

O acumulado do IDP em 12 meses até março foi de US$ 68,2 bilhões (3,19% do PIB), abaixo dos US$ 72,5 bilhões registrados até fevereiro.

Já os investimentos em carteira, considerados mais voláteis, também apresentaram saídas líquidas em março: US$ 1,8 bilhão. A maior parte do movimento foi registrada no mercado de ações e fundos, com retirada líquida de US$ 939 milhões.

Reservas internacionais em alta

Em meio a esse cenário, o estoque de reservas internacionais apresentou leve crescimento, fechando março em US$ 336,2 bilhões — aumento de US$ 3,6 bilhões em relação a fevereiro, influenciado por ganhos cambiais, valorização de ativos e receitas de juros.

*Com informações do Banco Central do Brasil