Começou nessa segunda-feira (17) o júri do assassinato do estudante de direito, Matheus Xavier, executado em abril de 2019. Sentam nos bancos dos réus, Jamil Name Filho, Vladenilson Daniel Omedo, Marcelo Rios e Eurico dos Santos Mota . É esperado que o júri dure a semana inteira, visto que serão ouvidas 16 testemunhas e mais de 15 mil páginas de processo.
"A maior matança do estado”, “De picolezeiro a governador”, essas frases poderiam ser retiradas facilmente de um filme de ação de Hollywood, mas se referem a Mato Grosso do Sul. Faixas espalhadas pela capital na semana passada antecederam o júri, que é marcado por muita expectativa. Em primeiro momento, o julgamento aconteceria em outubro de 2021, mas foi adiado três vezes. Jamil Filho e Marcelo Rios estão presos na Penitenciária Federal de Mossoró, e foram trazidos para a capital, em um forte esquema de segurança, envolvendo autoridades policiais nacionais. Polícia Penal Federal, Polícia Federal, Polícia Judiciária e a Polícia Militar fazerm a segurança do fórum.
Cinco testemunhas serão ouvidas nessa segunda-feira. No período da manhã, são três testemunhas arroladas pelo MP/MS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul): Giancarlos de Araújo e Silva (investigador da Polícia Civil), Tiago Macedo dos Santos (delegado da Polícia Civil) e Daniella Kades de Oliveira Garcia (delegada da Polícia Civil). No período da tarde mais dois delegados serão ouvidos, assim como o pai de Matheus, Paulo Roberto Teixeira Xavier, que será ouvido como informante.
Os três réus apresentam uma fisionomia abatida, com os três evitando contato visual com as pessoas que acompanha o júri. Os réus também estão bastante magros, principalmente Name Filho.
ENTENDA O CASO:
Matheus Xavier foi assassinado na frente da sua casa no dia 9 de abril de 2019, com ao menos sete tiros do fuzil AK-47. A investigação policial acredita que o verdadeiro alvo da milícia era o pai de Matheus, o ex-capitão da Polícia Militar, Paulo Roberto Teixeira Xavier, que era desafeto da família Name por conta de negociações de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon.
Para cometer o crime, o grupo contratou Eurico Mota para rastrear a rotina do ex-militar. No entanto, Eurico “terceirizou” o serviço, contratando um hacker para a função. Por volta das 18 horas no dia do crime, Matheus pegou a caminhonete do pai para sair e foi fuzilado pelos pistoleiros da milicia, Juanil Miranda Lima e por José Moreira Freires, o “Zezinho” (Morto pela polícia civil do Rio Grande do Norte em 2020), o fuzil utilizado no crime nunca foi encontrado.
OPERAÇÃO OMERTÀ:
A Operação Omertà foi deflagrada cinco meses após o assassinato do estudante, pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul, por intermédio do GAECO (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e visou desmantelar o grupo que planejava a maior matança em MS.
A família Name, dona de várias empresas em Mato Grosso do Sul, e envolvida até na política estadual, controlava o Jogo do Bicho na capital, com a “benção” do “Rei da Fronteira”, Fahd Jamil.
A aproximação dos chefes da família, Jamil Name e Fahd Jamil, se deu ainda mais após o desaparecimento do filho de Fahd Jamil, Daniel Alvarez Georges. Para vingar o desaparecimento do filho, os dois grupos se juntaram e execuções com o mesmo padrão começaram a acontecer no estado. A primeira foi do chefe de segurança da assembleia de Mato Grosso do Sul, Ilson Martins Figueireido, em junho de 2018
Em outubro do mesmo ano duas pessoas foram executadas. O Playboy da Mansão” em um bar e, dias após, Orlando Silva Fernandes, ex-segurança do traficante paraguaio, Jorge Raffat, executado com 40 tiros.
Várias execuções, com o mesmo padrão e utilizando armas com grosso calibre, levantaram suspeitas pela polícia. Durante investigação policial, foi descoberto um arsenal de armas na casa do ex-guarda municipal, Marcelo Rios, e com isso o quebra-cabeça para desarticular a maior milícia do MS começou a ser montado. A investigação detalhou que o grupo funcionava em quatro núcleos, tendo a participação de policiais civis, delegado e guardas municipais, com os líderes da milícia sendo Jamil Name e Jamil Name Filho.
Mesmo com a apreensão do arsenal, a polícia não conseguiu encontrar as armas utilizadas nos crimes. Uma teoria é que após as execuções, a milícia transportava as armas para o grupo liderado pelo Fahd Jamil, no lado paraguaio da fronteira, dificultando a localização das armas dos crimes.
A sensação de impunidade do grupo era grande, que durante audiência online, Jamil Name chegou a oferecer R$ 600 milhões para ser transferido para Campo Grande.
Jamil Name morreu em 31 de maio de 2021 por decorrências da COVID-19.