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PROBLEMA RECORRENTE

Lago do Amor: Por que as comportas falharam?

Por que as comportas, projetadas para prevenir desastres como esse, não estavam abertas?

Local onde as comportas devem ser abertas manualmente para dar vazão à água - Foto: Gerson Wassouf/RCN67
Local onde as comportas devem ser abertas manualmente para dar vazão à água - Foto: Gerson Wassouf/RCN67

A passarela do Lago do Amor, em Campo Grande, foi arrasada mais uma vez após temporal que atingiu a região nesta terça-feira (19) e despejou 65 milímetros de chuva em duas horas – quase metade do previsto para todo o mês de março, segundo o meteorologista Natálio Abrahão, da Uniderp.

A área foi interditada logo após o incidente, a força da enxurrada levou o aterro e parte da calçada. O que ainda não ficou claro é por que a obra, entregue há apenas 17 meses, sucumbiu novamente – e por que o sistema de comportas, essencial para controlar o nível do lago, falhou em evitar a tragédia?

Prefeita Adriane Lopes – Foto: Gerson Wassouf/RCN67

Presente no local nesta manhã (19), a prefeita Adriane Lopes explicou: “Choveram mais de 70 milímetros em duas horas; a água passou por cima da pista e levou a estrutura”. Ela ainda destacou o fator ambiental: “O lago tinha 119 hectares e hoje tem 70; o assoreamento é uma questão antiga, e o lago corre risco de desaparecer até 2030”.

O secretário Municipal De Infraestrutura e Serviços Públicos, Ednei Marcelo Miglioli, justificou que: “Os vertedores foram projetados para extravasar o excesso, mas o lago perdeu capacidade de armazenagem”.

Previsibilidade ignorada

Campo Grande vem encarando pancadas fortes de chuva durante todo o mês de março. As previsões divulgadas pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) trazem alertas de risco potencial para enchentes na capital sul-mato-grossense, com destaque para que a Defesa Civil orientasse o poder público.

Nesta manhã, após o ocorrido, medidas emergenciais foram anunciadas pela prefeitura, mas ainda sem prazo. Miglioli informou apenas que “o aterro será recomposto o mais rápido possível”.

Ao ser questionada sobre os alagamentos registrados em outros pontos da cidade, de forma recorrente, neste verão 2025, a prefeita destacou ações pontuais: “Resolvemos alagamentos com bacias de contenção, mas chuvas intensas ainda causam danos”.

Trechos das avenidas Guaicurus e Ernesto Geisel também foram afetados pela enchente dessa terça-feira. O secretário reconheceu: “A drenagem da Guaicurus não suporta mais; já temos a solução e vamos implementá-la”. Sobre o volume de água, ele foi enfático: “Não controlamos o tempo”.

Descuido ou falha técnica?

A vulnerabilidade na região do Lago do Amor era conhecida tanto pelo poder público quanto pela população. A estrutura para evitar alagamentos no local foi reconstruída em 2023 por R$ 3,88 milhões, após colapso semelhante ocorrido em janeiro daquele ano.

Em outubro, apenas um mês após a entrega da nova obra – projetada para abrir manualmente um vertedouro e dar vazão à enxurrada – parte da estrutura cedeu e, somente em dezembro de 2023, foi finalmente concluída.

Já em 2024, as chuvas ficaram abaixo do previsto e a eficiência da estrutura só foi colocada à prova com a chuvarada deste mês. E, novamente, a obra não resistiu ao transbordamento do lago.

Nessa terça-feira (18), mesmo diante dos alertas da meteorologia, o secretário municipal de obras, Marcelo Miglioli, afirmou que não houve previsibilidade para acionar a abertura das comportas:

A obra de dois anos atrás criou uma comporta para abrir com previsão de chuva, mas ontem foi torrencial e inesperada; não houve tempo hábil” – Marcelo Migioli

Ainda segundo o secretário Miglioli, uma reunião com a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), responsável pelo lago, e o Ministério Público do Meio Ambiente foi prometida para tratar do assoreamento, mas ainda sem data definida.

Ele defendeu a obra: “não houve falha na execução […] o sistema é vulnerável a situações como essa”.