O aumento da tarifa do transporte coletivo em Campo Grande, se aproximando dos R$ 5, poderia representar um crescimento na demanda por carros de aplicativo. No entanto, a categoria enfrenta dificuldades, com a redução no número de profissionais e a concorrência do transporte por motos.
Desde o ano passado, o número de motoristas de aplicativo na capital sul-mato-grossense teve uma queda de aproximadamente 40%. De acordo com o presidente do Sindicato dos Motoristas de Aplicativo de Mato Grosso do Sul, Fuad Salamene, muitos profissionais abandonaram a atividade devido à baixa rentabilidade e ao alto custo de manutenção dos veículos.
“Teve uma evasão de motoristas ao longo de 2024. Saimos de quase nove mil motoristas para cerca de 3.500. Isso ocorre porque as tarifas dos aplicativos estão muito baixas e não acompanham os custos de manutenção dos veículos e o preço dos combustíveis”, explicou Salamene.
Ele acrescenta que, no final do ano, há um pequeno aumento no número de condutores devido às oportunidades sazonais, mas a queda volta a ocorrer no início do ano seguinte.
Os impactos dessa evasão são sentidos também pelos passageiros. O estudante Caio Miguel Darzi relata dificuldades para encontrar motoristas disponíveis e um aumento considerável no valor das tarifas.
“Ultimamente, percebo que os motoristas estão cada vez mais distantes, com esperas superiores a dez minutos. Além disso, os cancelamentos são frequentes. Corridas que antes custavam R$12 ou R$13 agora não saem por menos de R$18 ou R$19. Já deixei de sair por conta do preço elevado”, afirmou.
Mesmo com o aumento das tarifas pagas pelos passageiros e a alta dos combustíveis, os motoristas não tiveram seus ganhos reajustados. Salamene explica que a principal plataforma do segmento, paga em média R$1,10 por quilômetro rodado, valor do qual ainda são descontadas taxas.
“Eles não têm um cálculo transparente. Algumas corridas pagam R$0,90 por quilômetro e outras, no máximo, R$1,40. Manter um carro avaliado em R$80 mil rodando em Campo Grande, com tantas ruas esburacadas, torna inviável essa atividade”, destacou.
Nem mesmo o reajuste de R$0,20 na passagem do transporte coletivo impulsionou a demanda por carros de aplicativo, que caiu 50% no último ano. “Até agora, não houve um aumento significativo na demanda. As pessoas estão buscando alternativas mais baratas, como bicicletas elétricas e motos de aplicativo”, concluiu o sindicalista.
A concorrência das motos de aplicativo também impacta o setor. Segundo Salamene, as exigências das plataformas para motoristas e motociclistas são diferentes, o que gera riscos.
“Para atuar como motorista de carro, é necessário ter a autorização do Detran com a observação E.A.R. (Exerce Atividade Remunerada). No entanto, muitos condutores de moto não possuem essa habilitação adequada, e as plataformas não cobrem seguro para esses profissionais”, alertou.