A onça-pintada que atacou e matou o caseiro Jorge Ávalo, conhecido como Jorginho, de 60 anos, será capturada pelas autoridades ambientais de Mato Grosso do Sul. O animal, um macho de idade avançada, vinha sendo cevado — ou seja, alimentado com frequência — na sede da fazenda onde ocorreu o ataque. A informação foi confirmada pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc) durante coletiva de imprensa nesta terça-feira (23).
“Uma das poucas certezas que temos até agora é que havia ceva sendo feita no local. Isso, além de ser crime ambiental, pode causar distúrbios comportamentais nos animais silvestres […] esse é um comportamento atípico para a espécie. Onças costumam evitar o contato humano.”
Arthur Henrique Leite Falcette – secretário adjunto da Semadesc
O ataque aconteceu na segunda-feira (21), às margens do rio Aquidauana, na região do Touro Morto, dentro de um pesqueiro, uma propriedade particular localizada em área de reserva legal.
Segundo a Polícia Militar Ambiental (PMA), partes do corpo de Jorge foram encontradas junto a pegadas da onça. Outras partes foram localizadas no dia seguinte, a cerca de 300 metros do ponto inicial, em uma área de mata fechada.
Durante as buscas, o felino reapareceu tentando proteger a “caça” — o que contribuiu para a rápida identificação do animal como o responsável pelo ataque. Já nesta quarta-feira (23), a onça retornou à sede da fazenda, inclusive rompendo uma tela instalada na janela e invadindo o imóvel — onde Jorginho morava — em busca de alimento.
Perfil da onça
De acordo com o coronel José Carlos Rodrigues, comandante da PMA, o animal é um macho de cerca de 90 a 100 kg e apresenta sinais de idade avançada, o que pode justificar a alteração de comportamento.
“Esses animais, quando envelhecem ou têm dificuldades físicas, tendem a mudar seus hábitos de caça. A ceva pode ter contribuído para ele perder o instinto de evitar humanos e passar a associá-los à alimentação”, explicou o coronel.
A operação de captura do felino está concentrada no entorno da sede da fazenda, já que outras duas onças também circulam pela área, segundo a PMA. No entanto, os policiais ambientais informaram que somente o macho envolvido no ataque tem sido visto com frequência próximo à casa.
Destino da onça
Assim que for capturado, o animal será encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), em Campo Grande. Lá, será submetido a exames clínicos e comportamentais.
“A avaliação feita no Cras vai determinar se ele será encaminhado para um programa de cativeiro especializado ou se há alguma possibilidade futura de reintegração à natureza”, explicou o secretário adjunto da Semadesc, Arthur Falcette.
Apesar da comoção, as autoridades reforçam que o caso é isolado. “Esse tipo de ataque é extremamente raro. O que vimos foi uma combinação de fatores: idade avançada, alimentação irregular e possível dificuldade física”, completou Falcette.
Proteção às onças
A Polícia Militar Ambiental afirmou que irá reforçar a fiscalização na região para evitar que outras onças sejam mortas em atos de retaliação. “Matar uma onça é crime ambiental. Estaremos atentos e, se isso ocorrer, os responsáveis serão responsabilizados conforme a lei”, afirmou o coronel Rodrigues.
A propriedade continua funcionando normalmente, e o governo do estado enfatiza que não há necessidade de isolamento da área. “Estamos em uma reserva legal, mas com propriedade privada e livre circulação. Não há motivo para pânico, nem para discursos de predação. Esse foi um episódio excepcional”, enfatizou Falcette.