Dados da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp) de Mato Grosso do Sul mostram um aumento significativo no número de pessoas desaparecidas no estado, com uma queda nas localizações de desaparecidos, em comparação ao ano anterior.
O levantamento revela que 391 pessoas desapareceram no estado em 2024, maior número da última década e também um aumento de 12% em relação aos 345 casos registrados no ano passado. No entanto, o número de pessoas localizadas caiu: 1.586 pessoas foram encontradas em 2024, enquanto em 2023 o número foi de 1.683.
Esses casos são investigados pelo setor de Desaparecidos da Delegacia Especializada de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), e, segundo o titular da especializada Rodolfo Daltro, muitos dos desaparecimentos envolvem pessoas com dependência química.
“Não identificamos uma causa predominante, mas percebemos que o aumento está relacionado, em parte, ao uso de drogas e álcool. Muitos deixam o convívio familiar por conta da dependência”, explica.
A proximidade de Mato Grosso do Sul com os países vizinhos, Paraguai e Bolívia, também dificulta as investigações, conforme apontado pelo delegado. “Nossa posição geográfica, com fronteiras secas, complica a investigação. O trânsito facilitado para países vizinhos e a falta de mecanismos internacionais de cooperação tornam mais desafiador identificar o paradeiro dessas pessoas”, relata Daltro.
As estatísticas revelam que, em sua maioria, os desaparecidos são adultos a partir dos 20 anos de idade, com um número considerável de pessoas entre 20 e 35 anos. “A dependência química é um fator recorrente, muitas vezes as pessoas desaparecem porque se encontram em situações extremas relacionadas ao vício”, detalha o delegado.
Além disso, embora a quantidade de desaparecimentos de idosos seja bem menor, quando ocorre, geralmente está ligada a problemas de saúde ou transtornos mentais.
Maria Campos, aposentada após 20 anos de atuação no setor de desaparecidos, compartilha a importância do estado para a implementação de mudanças na legislação nacional. “Fizemos o primeiro Congresso Nacional de Desaparecidos aqui em Mato Grosso do Sul, que resultou em mudanças na lei, permitindo que o registro de desaparecimento seja feito imediatamente, sem a necessidade de esperar 24 horas”, lembra Maria, que foi uma das responsáveis pela organização do evento.
O delegado Rodolfo Daltro também enfatiza a importância de uma resposta imediata por parte das famílias. “Se alguém desaparece dentro de um padrão de rotina, como um filho ou pai que não retorna para casa, a investigação já pode ser iniciada de imediato. A recomendação é que as famílias procurem uma delegacia imediatamente para registrar o desaparecimento, seja pessoalmente ou por meio do site da polícia”, orienta.