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"Minha loja com tradição de 50 anos pode acabar por conta dessas obras", diz comerciante

Lentidão nas obras e queda no faturamento obrigam empresário a fechar as portas por conta da falta de clientes na Rua Calógeras

Lentidão nas obras e queda no faturamento obrigam empresário a fechar as portas por conta da falta de clientes na Rua Calógeras - Foto: Gerson Wassouf
Lentidão nas obras e queda no faturamento obrigam empresário a fechar as portas por conta da falta de clientes na Rua Calógeras - Foto: Gerson Wassouf

Nesses últimos dois anos de pandemia, muitos empreendimentos foram fechados e nem todos reabriram as portas, em Campo Grande. Com a vacinação em andamento e a retomada da economia, os empresários se mostraram mais confiantes para o ano de 2022. Mas, em um momento tão importante para a recuperação do faturamento, obras e reformas públicas na capital, que deveriam impulsionar os negócios, têm, por outro lado, prejudicado o acesso de clientes ao comércio por meses, em alguns trechos do centro da cidade.

A revitalização da Rua Rui Barbosa vai percorrer 7 km da via, desde a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) até a Avenida Rachid Neder. O projeto prevê recapeamento, mobiliário urbano, semaforização inteligente, paisagismo, câmeras de videomonitoramento, wi-fi gratuito, acessibilidade universal, drenagem e estações de embarque e desembarque. O problema denunciado por comerciantes é a lentidão nessas obras. Nesse trecho, a reforma que tinha um prazo de 30 dias para ser concluída, já dura mais de 45 dias.

"Ninguém fala nada pra gente, eu fui na prefeitura, disseram que eu tinha que homologar uma reclamação junto à Sisep (Secretaria Municipal De Infraestrutura E Serviços Públicos). É muita burocracia e a gente fica sem saber nada, fica contando com a sorte, todos os comerciantes daqui estão passando por isso. Eu perdi 90% do meu movimento”. A reclamação é de Carlos Henrique Jaques, gerente de um posto de combustíveis na rua Rui Barbosa. “O cliente que vem, é só o que me conhece, que tem contrato com o posto. Eu já perdi quatro funcionários, tive que dar férias para dois e realocar os outros dois em outros postos para não demitir. Tá difícil porque agora o meu faturamento é só 10% do que eu tinha… o tempo perdido com essa obra, não que não tenha que fazer, mas esse tempo todo, é muita demora", complementa o gestor.

A mesma situação se repete na rua Calógeras, também na região central da cidade, onde a obra na via começou há mais de 2 meses. Além da demora na conclusão do projeto, os comerciantes reclamam da falta de comunicação da prefeitura sobre o início das obras. Os empresários poderiam ter planejado as finanças para lidar com a queda do movimento na região, durante a revitalização de ruas e calçadas.

É o caso do empresário Álvaro Fialho, que vende máquinas, equipamentos e ferramentas para o setor agropecuário. A loja dele está instalada na região há mais de 45 anos e ele conta que, em todo esse tempo de trabalho, essa é a pior fase financeira da empresa. "Com certeza esse é o momento mais difícil que a empresa está passando aqui na Calógeras, tanto o nosso faturamento quanto o nosso volume de clientes, caiu em 70% nos últimos dois meses… a gente foi pego de surpresa, naquele primeiro momento passaram um prazo de 10 dias para liberar esse pedaço da Calógeras e já se foram 60 dias",  Fialho.

A comerciante Celma Saraiva também reclama de prejuízos com a falta de aviso prévio sobre as reformas. Sem saber do projeto da prefeitura para o trecho, ela abriu o empreendimento dois meses antes das obras começarem no local e diz que as contas, já estão no vermelho. "A minha inauguração foi dia 28 de novembro, consegui trabalhar bem apenas um mês. Quando chegou em janeiro, eles abriram esse buraco na rua e não informaram para ninguém, nenhum comerciante sabia que eles iam começar essa obra. Toda semana eles prometem que vão entregar e nunca terminam! Em janeiro eu tive que fechar minhas portas. A minha salvação é o outro comércio que eu tenho, tô tirando dinheiro de lá pra pagar as contas daqui. Eu não sei mais o que fazer, estou pedindo socorro. Se o prefeito não agilizar isso, daqui um mês não vai dar mais e todo mundo vai fechar as portas", desabafa a empresária.

Fechar as portas foi a única saída para outo lojista na rua Calógeras, que viu os clientes sumirem de um dia para outro. Com a via interditada, nenhum veículo consegue chegar até o local. "Eu sou um comerciante pequeno, eu estava ali há muitos anos, desde 1986 com a loja aberta. Eu tô pagando aluguel, tô pagando funcionários, tive que dar férias coletivas contra a vontade deles para não ficarem parados aqui na loja porque, ou pegavam férias ou eram mandados embora. A minha empresa precisa que o carro entre, eu dependo disso para vender, tô tomando muito prejuízo”, revela Edilberto Bueno.

O comerciante que testemunhou o crescimento do comércio na região, hoje vê o patrimônio ameaçado por uma obra que deveria trazer desenvolvimento. “Eu fico chateado porque meu pai e meu tio que montaram a empresa, tem uma tradição de 50 anos e, depois de dois anos de pandemia ainda ter que lidar com essa situação das obras, eu não sei se eu vou durar, infelizmente".

Maurício Barbosa que é comerciante de peças automotivas na rua Calógeras, há mais de 20 anos, reforça que o problema não é a obra, e sim a demora na conclusão do serviço. "O que a gente pede é agilidade. A gente sabe que imprevistos acontecem em uma obra grande como essa, só que esses imprevistos estão sendo muito frequentes. E a gente acaba vendo isso por um outro lado, vendo como uma falta de planejamento para essa obra estar tão lenta assim e afetando tanto todos os comerciantes aqui na região".

A Prefeitura Municipal de Campo Grande informou à nossa reportagem que o término das obras na Rua Rui Barbosa está previsto para agosto, dentro do prazo divulgado no início das intervenções, que é de 15 meses. Sobre a reforma na Rua Calógeras, a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Serviços Públicos garantiu que o trecho entre a Avenida Fernando Corrêa da Costa e a Rua Coronel Quinto será liberado ainda nesta semana. A secretaria também informou que o projeto inteiro previsto para a Calógeras será concluído até o final do ano.