O Ministério Público Federal (MPF) em Mato Grosso do Sul instaurou uma 'Notícia de Fato' para apurar uma denúncia de preconceito religioso contra o padre Paulo Santos, da paróquia São Francisco de Paulo, do município de Nova Andradina-MS, no sul do estado, distante trezentos quilômetros de Campo Grande.
No dia oito deste mês, durante a celebração da “Missa Solidária em Oração Pelo Rio Grande do Sul”, transmitida ao vivo pelas redes sociais, o padre, que é gaúcho, convocou os fiéis a orar pela população do Rio Grande do Sul relacionando a tragédia das enchentes ao satanismo e à bruxaria.
"Eu farei um alerta à todos nós. O Rio Grande do Sul, há muito tempo, abraçou a bruxaria e o satanismo. Há muito tempo o meu povo tem se afastado de Deus", proferiu o padre. (Assista ao vídeo abaixo)
A fala do líder religioso foi interpretada por algumas pessoas como sendo de 'intolerância religiosa', incluindo o deputado estadual Leonel Radde, do PT do Rio Grande do Sul, que esta semana apresentou uma denúncia contra o pároco no MPF pela suposta prática de crime previsto no artigo 20 da Lei n° 7.716, de 1989 – que dispõe sobre prática, indução ou incitação à discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.
"Nenhum indivíduo tem o direito de propagar discurso de ódio e nem de espalhar mentiras sobre a situação dramática que ocorre no Rio Grande do Sul. Além da intolerância religiosa, o suposto padre também atacou o estado inteiro com sua fala criminosa", comentou o parlamentar gaúcho.
A apuração do fato será conduzida por um dos procuradores do município de Dourados. Após essa fase inicial, o Ministério Público Federal vai decidir se abre ou não um procedimento para investigar a conduta do líder religioso.
Dados sobre religião
Sobre a declaração do padre de que o Rio Grande do Sul é um estado ateu, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ainda não disponibilizou o resultado da pesquisa sobre religião referente ao último Censo, realizado em 2022.
O dado oficial mais recente é de 2010 e revela que, no Rio Grande do Sul, o número de pessoas que se declararam SEM RELIGIÃO, incluindo nesse grupo os ateus, representa 5,6% da população do estado gaúcho.
No estado da Bahia, citado pelo padre, esse índice é praticamente o dobro do RS, representando 11,8% da população total do estado baiano.
E a população adepta à Umbanda e ao Candomblé, duas religiões de matriz africana – quando se analisa o número isolado – realmente o Rio Grande do Sul tem mais umbandistas e candomblecistas que a Bahia. Mas, quando comparado ao total de moradores de cada estado, isso representa 1,5% no Rio Grande do Sul e 0,4% na Bahia.
Já sobre a população católica, os dados do IBGE (Censo 2010) revelam que o Rio Grande do Sul tem, proporcionalmente, maior número de católicos quando comparado à Bahia. O índice é de 65% no estado nordestino e de 69% no Rio Grande do Sul.
O jornalismo da Rádio CBN Campo Grande procurou as instâncias da Igreja Católica em Mato Grosso do Sul, mas, em Nova Andradina, onde o padre atua, não tivemos retorno. A Arquidiocese, que fica no município vizinho de Naviraí, informou que não pretende se posicionar sobre o caso.
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