O envelhecimento da população é indiscutível. Nem é preciso ter uma pessoa idosa na família, basta observar no comércio o número de vagas reservadas aos que já estão na chamada “melhor idade”. A percepção é validada pelos dados do IBGE: a população com 60+ representa boa parcela dos habitantes brasileiros. De 2000 a 2023, a proporção de idosos – 60 anos ou mais – quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. E, daqui a 46 anos, eles representarão cerca de 37,8% dos habitantes do país, conforme projeção do IBGE divulgada recentemente.
Em Mato Grosso do Sul, o cenário atual aponta que 14% dos 2.757.013 habitantes – conforme dados do Censo 2022 – têm 60 anos ou mais. Em 2070, eles representarão 1/3 da população sul-mato-grossense.
“Os dados do último IBGE revelam informações importantes e, ao mesmo tempo, preocupantes quando se trata da pauta do envelhecimento humano ativo, tanto no território nacional quanto no estado de Mato Grosso do Sul. Isso revela, obviamente, que as condições precisam ganhar novos rumos, sobretudo nas políticas públicas de atenção à pessoa idosa, no que diz respeito aos direitos, à proteção, ao que está estabelecido no Estatuto da Pessoa Idosa, ao direito à educação, à cultura, ao lazer, à dignidade dessas pessoas”, diz o doutor em Gerontologia e coordenador da Universidade da Maturidade da UEMS – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul -, Djanires Neto.
Ele acrescenta que a Universidade da Maturidade é um programa de extensão que oferece condições para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas e a promoção da dignidade humana. “Nessas ações, elas refletem sobre o seu dia a dia, sobre um cenário possível que está estabelecido e marcado pelo envelhecimento. É uma pauta importante; é preciso que a população reflita, inclusive, sobre programas intergeracionais para estabelecermos uma cultura de envelhecimento humano ativo e saudável”.
Nesse sentido, pessoas hoje na faixa dos 60 anos relatam a trajetória de vida que inclui autocuidado e valorização de si mesmas. Mariéte Félix Rosa, 63 anos, dedicou a vida aos estudos; na década de 80, já tinha duas faculdades e uma especialização, e o foco estava voltado para o mestrado e doutorado. Casou-se em 1986 e ainda não é avó. Em suas palavras: “meus filhos ainda estão em um processo de estudo, e é isso que valorizamos e sempre dizemos a eles. Também não temos essa preocupação de que temos que ser avô e avó. Curtimos viajar, curtimos a vida, ver os amigos, encontrar os amigos”.
Chegar a 2070, para Mariéte, é um desejo de vida ativa e saudável, já que faz atividade física, dança e gosta de ler. “Temos que nos manter bem fisicamente para que possamos aproveitar a vida. Eu quero viver muito tempo e com saúde, então, claro que eu quero chegar a 2070, quero viver muito”, diz.
No meio da jornada rumo ao envelhecimento, Francisco Jhonny Silva Maia, de 45 anos, comenta que o tempo passou muito rápido. “Na infância, eu e meus primos ficávamos projetando como estaríamos em 2000, em 2010. Fiquei surpreso com a velocidade do tempo”.
Nesse ritmo, 2070 está quase aí, e ele projeta: “eu pretendo usar a minha área de lazer aqui na minha casa, receber meus netos, viajar com eles e com meu filho, reunir a família para fazer um churrasco, se eu conseguir, pois estarei com 91 anos, né? Vou tentar ter uma vida saudável, eu e minha esposa, para poder curtir a vida e estar bem aposentado”.
Nicho de mercado – O supervisor de disseminação de informações do IBGE em Campo Grande, Fernando Gallina, comenta que a projeção permite um melhor planejamento tanto para os órgãos públicos quanto para a iniciativa privada. “Da mesma forma que para o governo é interessante saber que a população está envelhecendo e que isso vai gerar consequências de custos na saúde, por exemplo, também pode ser interessante para a população em geral que queira montar uma clínica de fisioterapia, que vai ter um número maior de clientes, já que há uma tendência de que as pessoas idosas sejam mais clientes de fisioterapia. Até mesmo para o setor imobiliário pode ser interessante, com casas mais adequadas para idosos”.
Dulce de Andrade Hugo, 65 anos, montou com a família uma instituição de longa permanência para pessoas idosas. “Tínhamos uma idosa em casa, uma daquelas antigas babás que eram perpétuas nas casas. Ela foi envelhecendo, e não tínhamos condições de cuidar dela, então, veio a ideia de montar uma casa de acolhimento, não só para ela, mas para todos os idosos, para que eles tivessem uma qualidade de vida melhor – com profissionais que pudessem atender, com medicação no horário, com comida balanceada por nutricionista e com um bom colchão para dormir”, detalha.
Ela vivencia o aumento da expectativa de vida e atribui isso ao maior acesso a atendimento médico, ao esclarecimento da população e ao avanço da medicina. Dulce também espera chegar a 2070: “Olha, se eu continuar com a saúde que tenho hoje, acredito que posso ser uma velhinha até ativa”, conclui.