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POLÍCIA

Mulher trans que teve 90% do corpo queimado não resiste aos ferimentos e morre na capital

Caso ocorreu durante o final de semana e a vítima, Pamela Myrela, estava internada na Santa Casa de Campo Grande desde a madrugada de domingo (19)

Pamela tinha 31 anos e morava em Campo Grande desde 2015 - Foto: Reprodução/Redes Sociais
Pamela tinha 31 anos e morava em Campo Grande desde 2015 - Foto: Reprodução/Redes Sociais

Após ter a casa incendiada e sofrer queimaduras em 90% do corpo, Pamela Myrela, uma mulher trans de 31 anos, não resistiu e morreu na manhã desta terça-feira (21), em Campo Grande. O caso ocorreu durante o final de semana, e ela estava internada em estado grave na Santa Casa desde o domingo (19). As autoras suspeitas de atear fogo na casa de Pamela estão presas preventivamente, e a família, natural de Goiás, está em Campo Grande aguardando a liberação do corpo.

Pamela e as suspeitas do crime eram garotas de programa e tiveram uma briga durante a madrugada de domingo, em uma boate. O motivo do crime seria vingança após o desentendimento.

Pamela chegou a receber atendimento médico e estava internada na Santa Casa de Campo Grande, mas não resistiu aos ferimentos.

A delegada da Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário do Centro Especializado de Polícia Integrada da capital (Depac/Cepol), Cynthia Gomes, foi responsável pela prisão das suspeitas ainda durante o final de semana e acompanhou o depoimento delas, identificadas como Yara e Baby. A delegada deu mais detalhes sobre o momento do crime.

A Yara, junto com a Babi, foram até um ponto de gasolina compraram um galão de gasolina e foram até a casa de Pamela. Chegando lá, a Yara chama pela Pamela e quando a Pamela se aproxima do portão, a Yara joga toda a gasolina ali no entorno, no portão, no muro, ali aonde estava a Pamela. A intenção dela era atingir a Pamela. E aí ela acende um isqueiro e coloca fogo em tudo. Um fogo junto de uma gasolina, aquilo inflama rapidamente e foi o que aconteceu“, contou a delegada.

Após atearem fogo na casa de Pamela, as suspeitas foram localizadas por policiais civis horas depois do ocorrido. A equipe policial contou com informações de amigos e familiares da vítima sobre a localização das possíveis autoras, que foram presas em uma pensão destinada a transexuais, no bairro Amambai, região central da capital.

Yara e Baby já passaram por audiência de custódia e agora seguem presas preventivamente durante o decorrer do processo. E, após a morte de Pamela ser confirmada nesta terça-feira, haverá alterações na pena das suspeitas, conforme explicou a delegada Cynthia Gomes.

A prisão delas, que inicialmente foi o flagrante, foi convertida em prisão preventiva. Elas vão ficar presas no curso do processo. Elas foram autuadas inicialmente pelo crime de tentativa de homicídio qualificado. Qualificado pelo motivo fútil e qualificado pelo emprego de fogo, que é uma outra qualificadora. No entanto, com a morte da Pamela, vai haver a alteração. Elas vão ser responsabilizadas, mas agora na modalidade consumada, porque não se trata mais de homicídio tentado, tendo em vista que a vítima veio a óbito“, explicou a delegada.

Enquanto o caso continua na Justiça, a família de Pamela, natural de Goiás, está em Campo Grande aguardando a liberação do corpo e conta com a ajuda de amigos e conhecidos para arcar com os custos do translado.

A mãe de Pamela, dona Iraides Rosa, relembra o carinho sempre presente na relação com a filha e afirma que espera justiça.

Era a minha filha mais velha, companheira, estava morando longe mas me ligava todo dia, queria saber como é que eu estava, ligava para a irmã. Todo final de ano ela ia me ver, isso para ela era sagrado, ver a avó. Então a gente não esperava isso, ela foi passar o final de ano com nós, ela vem para cá na quarta e acontece isso com ela no domingo […] Ela era uma pessoa alegre, feliz, brincalhona. Morava aqui há uns 10 anos e gostava muito daqui. Eu espero justiça, que a pessoa que fez isso pague pelo que fez“, disse a mãe.

A conselheira da Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul (ATMS), Kensy Palácio, também falou sobre o ocorrido e trouxe o posicionamento da associação.

Independente da pessoa, da orientação sexual e da identidade de gênero, é um ser humano. E se aconteceu algo pessoal, individual que correu a isso, não cabe a nós julgar. A gente não concorda com nenhum tipo de barbárie, principalmente aquela que traz uma situação tão violenta como foi essa. Nos lembra do passado, das questões transfóbicas também, que vem com muitas questões de ódio. Mas isso não nos cabe julgar ou analisar. Isso cabe à justiça“, afirmou Kensy.