Nesta sexta-feira (30), será inaugurado o mural de 166 metros quadrados pintado pela renomada artista plástica e professora Angela Silva, localizado no campus de Ponta Porã do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS). O evento está marcado para as 15 horas e contará com a exibição do vídeo-documentário "Entrelinhas", que retrata todo o processo de pintura e inclui entrevistas realizadas durante a pesquisa para a produção da obra.
Além das cores vibrantes e dos desenhos que representam a fronteira, outro destaque impressionante desse grandioso mural é a realidade aumentada. Através de um filtro disponível no Instagram, os visitantes poderão apontar a câmera de seus celulares para a pintura e, ao visualizá-la na tela, verão pássaros batendo asas e um coração pulsante.
"Achei muito interessante quando vi algumas referências nas redes sociais. Embora não seja muito comum, existem trabalhos de street art nos quais as pessoas têm utilizado a realidade aumentada em murais. E, quando vi, me interessei bastante, pois você adiciona movimento a algo estático. Na arquitetura, em um prédio, por exemplo, de repente você consegue introduzir movimento. Acho isso muito interessante", conta Angela.
A produção do mural teve início em março e exigiu 28 dias de trabalho árduo até sua conclusão. Imponente, a obra pode ser admirada até mesmo por quem chega ou parte da cidade pela BR-463. "Enfrentei algumas dificuldades ao compor a obra, pois obtive respostas contraditórias das pessoas entrevistadas durante a pesquisa. Algumas diziam que viver na fronteira é algo normal, natural, enquanto outras respostas revelavam uma perspectiva diferente", lembra a artista.
A partir desse ponto, Angela questionou a direção que deveria seguir, mas, por fim, compreendeu que a identidade fronteiriça pode abranger diversos aspectos. "Percebi que as coisas podem coexistir, afinal, trata-se de uma fronteira, onde você tem ambos os lados ao mesmo tempo. Uma professora que entrevistei mencionou o acolhimento, pois há uma cultura muito receptiva aqui, enquanto outras pessoas mencionaram a violência e a ancestralidade, há toda uma alteridade", afirma Angela.
No mural, há a representação de duas jovens mulheres simbolizando as duas nações, além de aves interagindo, evidenciando a livre circulação entre os países. Também há a figura de uma senhora bordando um tecido cósmico, representando a ancestralidade.
"Essa questão da dualidade está presente nesse local. Existem tons frios e quentes, muito azul e vermelho. Tudo isso vem desse desejo de representar o que estava muito presente nas palavras das pessoas, essa dualidade, essa aparente contradição que coexiste aqui e, de certa forma, encontra equilíbrio", explica a artista.