As duas principais bacias hidrográficas de Mato Grosso do Sul, a do Paraguai e a do Paraná, estão sendo seriamente impactadas pela introdução de peixes exóticos, de acordo com Fernando Rogério de Carvalho, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) no campus de Três Lagoas.
Segundo Carvalho, "toda vez que uma espécie é levada de sua distribuição natural para uma área que não é a sua, ela interfere nas relações ecológicas dos organismos nativos, trazendo prejuízos imensos." Ele destacou que as espécies exóticas levam vantagem sobre as nativas porque não há um histórico de adaptação e defesa entre predadores e presas, como acontece com as espécies locais ao longo de milhões de anos de evolução.
O pesquisador também explicou que existem duas formas de introdução de espécies invasoras: intencional e não intencional. Um exemplo de introdução intencional foi a introdução do tucunaré devido à construção de hidrelétricas.
As hidrelétricas transformaram rios correntes em grandes reservatórios, desfavorecendo espécies nativas como dourados e pintados, que necessitam de águas correntes para completar seu ciclo de vida. Isso resultou em impactos negativos nas comunidades de peixes nativos, com algumas espécies, como o pintado, entrando na lista de espécies ameaçadas de extinção.
Carvalho destacou ainda que a introdução não intencional de espécies invasoras pode ocorrer por eventos como enchentes. Ele mencionou o caso do reservatório de Água Vermelha, na divisa de São Paulo com Minas Gerais, onde a introdução do pirarucu, uma espécie amazônica, aconteceu após uma represa de criação de alevinos estourar durante uma chuva torrencial em 2008. Esses peixes acabaram se estabelecendo no Rio Grande e, posteriormente, no Rio Paraná.
Apesar dos esforços para conter o problema, Carvalho afirma que a retirada completa dos peixes exóticos dos rios de Mato Grosso do Sul é praticamente impossível. "É uma batalha invencível. Uma vez que eles estão no ambiente aquático, não tem como separar esses organismos", disse o pesquisador.
Ele sugere que a única forma de controle é incentivar a pesca dessas espécies exóticas sem restrições de tamanho ou quantidade, já que condições climáticas que poderiam naturalmente controlar essas populações, como baixas temperaturas, são raras na região.
O pesquisador ressaltou a importância da conscientização da população sobre os problemas causados pelos peixes exóticos. "Muitas pessoas ainda acreditam que a introdução dessas espécies é benéfica para a pesca, mas essa é uma visão equivocada", afirmou Carvalho.