*Reportagem editada em 22/3/2023 para publicação de errata no crédito da fotografia utilizada
Agentes do 4º Batalhão da Polícia Militar em Ponta Porã, são alvos de investigação na ‘Operação Aqueus’ deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta semana. Conforme a PF, os policiais prestavam serviços à uma organização criminosa. Um cabo e três soldados foram alvos de mandados de buscas e apreensão. O grupo seria liderado por Heitor Ferreira Gomes, “Heitorzinho” ou “Gordinho” e Alexando da Silva Paixão, o “Monstrão”.
A organização criminosa movimentou mais de R$ 155 milhões com o tráfico de drogas de Mato Grosso do Sul para outros estados do país. Ainda de acordo com a PF, a investigação durou vários meses e o grupo chegou a gravar fotos de agentes da PF, além de repassarem para líderes da organização. Segundo os federais, a atitude colocou em risco a vida da equipe e por isso deve ser apurada.
Juntos, organizavam um esquema de tráfico que consistia em tirar maconha da fronteira, armazenar em Campo Grande e Três Lagoas e então espalhar para outros estados. A PF aponta ainda que a droga era adquirida com carros roubados e o dinheiro das vendas era diluído em várias contas de “laranjas”, tudo para despistar a polícia.
Consta no processo que por várias vezes, ao longo das investigações, dois policiais federais da equipe viajaram até Ponta Porã para monitorar essa compra de drogas do grupo criminoso. Os traficantes se hospedavam em um apartamento de edifício localizado na avenida que marca a divisa entre Pedro Juan Caballero e o município sul-mato-grossense.
Em agosto do ano passado, os policiais vigiavam o local quando foram abordados por uma viatura do 4° Batalhão da Polícia Militar. Os federais se identificaram aos militares, explicaram que estavam em investigação sigilosa, mas pediram que os colegas seguissem com a abordagem normalmente, tudo para não levantar suspeitas dos investigados.
Registros da operação
Meses depois, quando as equipes receberam os dados armazenados em nuvem pelos investigados, fruto de pedido judicial pela quebra do sigilo telemático, descobriram que entre as conversas estavam fotos das identidades funcionais dos dois agentes federais que trabalhavam na apuração.
As fotos estavam em mensagens enviadas por Heitor. Na conversa, o contato do líder da organização criminosa revelava a presença dos policiais na cidade e explicava que o “policial que pagava em Ponta” estava monitorando outra situação quando por acaso abordou a viatura descaracterizada da Polícia Federal.
Heitor encaminhou a fotos para um dos parceiros e os dois reconheceram os policiais como os mesmos homens que encontraram em um pesqueiro da região quando foram almoçar.
Em outra conversa, um fornecedor de drogas também alertou sobre a investigação para Heitor e ele garantiu que já estava a par do episódio. Para descobrir quem vazou as informações sobre os agentes, a Polícia Federal recorreu a Corregedoria da Polícia Militar.
Assim descobriu o nome dos militares que fizeram a abordagem naquele dia, além do acesso ao GPS da viatura. Foi descoberto então que o cabo era o comandante da equipe policial e o responsável por recolher as identidades funcionais.
Diante da confirmação e considerando a hierarquia militar, em que toda informação deve passar pelo chefe da ação, foi requisitada a prisão temporária do cabo PM Jean Carlos Vaz Elias, além do mandado de busca e apreensão no endereço dos outros três policiais envolvidos no caso.
O pedido foi negado, mesmo o juiz reconhecendo que os elementos de informação apontam fortes indícios de que o comandante da equipe estaria recebendo “propina para fins criminosos”. Mesmo assim, ele e os subordinados foram alvos de mandados de busca e apreensão, com a única finalidade de se juntar provas sobre os crimes por eles praticados, como corrupção e quebra do sigilo profissional. Nessa manhã, os policiais federais foram aos endereços de cada policial e ainda fiscalização a sede do 4° Batalhão da Polícia Militar.
Abalo na segurança
Além do envolvimento dos quatro policiais militares, as investigações identificaram ainda a participação de um funcionário da Agepen (Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário) no esquema.
Ele seria “laranja” dos traficantes, ou seja, teria cedido a própria conta para os criminosos depositarem os valores recebidos. O Ministério Público chegou a pedir a prisão temporária do suspeito e também o afastamento dele do cargo.
Mas o pedido foi negado. Na decisão foi considerado que ele não sabia a verdadeira origem do dinheiro quando entregou a conta. Os PM´s investigados tiveram aparelhos celulares apreendidos, além de notebooks recolhidos para investigação.
ERRATA
Erramos ao publicar a reportagem original com o crédito "Dracco" da fotografia de capa utilizada, quando o correto seria creditar o fotógrafo Vagner Leal do Rosário. Pelo erro pedimos desculpas.