Mato Grosso do Sul enfrenta uma realidade preocupante: 3.228 pessoas vivem em situação de rua no estado, segundo o Censo do IBGE de 2022. Desse total, mais de mil estão em Campo Grande, conforme dados do Cadastro Único (CadÚnico).
Atualmente, pelo menos 1.057 pessoas vivem nas ruas de Campo Grande, de acordo com o levantamento do Ministério Público Federal, baseado no CadÚnico. Apesar dos esforços de unidades como o Centro POP, que oferece serviços básicos e assistência social, a demanda cresce mais rápido do que a capacidade de atendimento.
A superintendente da Secretaria Municipal de Assistência Social, Teresa Cristina Miglioli, explica que o trabalho é focado na aceitação do acolhimento e no desenvolvimento de um Plano Individual de Atendimento (PIA) para cada pessoa, mas reforça que ninguém é obrigado a sair das ruas.
Paulo Henrique, paulistano de 51 anos, vive nas ruas há mais de uma década. Sua trajetória reflete as dificuldades de quem enfrenta essa realidade. Paulo perdeu tudo após uma série de eventos pessoais e profissionais, incluindo um furto ao chegar em Campo Grande, quando pretendia expor suas telas em Bonito.
“Me levaram dinheiro, gravuras, telas… acabei entrando em depressão e sem documentação”, relata. Ao seu lado, está a cachorra Vane, que ele se recusa a abandonar, mesmo que isso limite o acesso a abrigos.
Experiências negativas também influenciam sua resistência a centros de acolhimento. “Cheguei a ir, mas vi funcionários vendendo droga, então fiquei desiludido”, explica Paulo.
O pastor Milton Marques, que já viveu em situação de rua, hoje lidera o trabalho social na Clínica da Alma. Ele acredita que a dependência química é uma das principais causas desse cenário, com 99% das pessoas em situação de rua sendo usuários de drogas, segundo sua experiência. “A família não aguenta, e muitos acabam escolhendo a rua como estilo de vida”, observa.
Milton defende a união entre estado, ciência e religião para enfrentar o problema de forma eficaz.
Milton alerta ainda que o número de 1.057 pessoas apontado nos levantamentos se refere apenas à área central de Campo Grande. “Se formos aos bairros, acredito que temos entre três a quatro mil pessoas em situação de rua. É só andar pela cidade para perceber”, afirma.
Estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostram que o aumento da população em situação de rua está ligado a fatores como cortes em programas sociais e o déficit habitacional. A pesquisa indica que 84% dessas pessoas são alfabetizadas, o que reforça o potencial de reinserção social com o suporte adequado.