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Entrevista

‘Preconceito contra o autismo pode ser combatido com mais conhecimento'

Para o especialista André Varella, informação de qualidade auxilia na redução de ideias equivocadas sobre o distúrbio

Dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CD) dos Estados Unidos revelam que, uma em cada 59 crianças, tem Transtorno do Espectro Autista (TEA). O distúrbio aparece na primeira infância e afeta áreas como a socialização, linguagem e, até mesmo, o comportamento das crianças. Para difundir informações a respeito do autismo e com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de quem convive com o transtorno, a Organização das Nações Unidas instituiu a data de 2 abril para conscientizar a sociedade sobre o assunto. Segundo o professor e pós-doutor em psicologia do Laboratório de Pesquisa em Autismo e Comportamento (Lapac) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), André Varella, datas como esta são importantes porque ajudam a levar informação de qualidade às pessoas. “Porque, uma vez conhecendo o que é, a gente consegue reduzir aqueles preconceitos, aquelas ideias equivocadas sobre o que é o autismo. Infelizmente, as pessoas ainda pouco conhecem”.

Jornal do Povo – O que é o autismo? 
André Varella – O autismo é um distúrbio do desenvolvimento que as crianças apresentam ainda nas primeiras fases da vida, na primeira infância. Ele afeta algumas áreas das crianças como a socialização e a linguagem. Pode afetar, também, a parte de comportamento em que as crianças, muitas vezes, vão ter interesses muito específicos em algumas coisas, vão ter uma grande aderência a algumas rotinas. Então, é importante frisar que o autismo não é uma doença, ele é um tipo de problema que acontece no desenvolvimento da criança e que vai, de certa forma, produzir um tipo de desenvolvimento irregular, atípico. 

JP – Como é feito o diagnóstico?
André – O diagnóstico do autismo é feito com base na avaliação de como está acontecendo o desenvolvimento da criança. É importante que os profissionais de saúde recebam treinamento para poder identificar e diagnosticar adequadamente o autismo para verificar de que maneira o desenvolvimento da socialização da criança está acontecendo, da linguagem, a maneira como ela interage com as pessoas, como ela estabelece relacionamentos com as pessoas ao redor, com a família, de que maneira ela brinca. Todos esses indícios de como a criança está evoluindo, são importantes para fazer o diagnóstico. 

JP – O autismo é dividido por graus. Qual a característica de cada grau?
André – A gente tem casos de autismo que são mais leves, onde a criança vai precisar de pouco suporte, mas, ainda assim, são casos importantes que precisam de tratamento e, até, casos mais severos no qual a quantidade de sinais de sintomas que a criança vai apresentar, eles são muito robustos, são maiores e isso afeta mais ainda o desenvolvimento dela e, de certa forma vai exigir com que as pessoas ao redor tenham que dar mais suporte pra criança nesse momento.

JP – Há discriminação ou preconceitos contra pessoas com autismo?
André – Sim. Infelizmente existe. E é exatamente por isso que essas datas como do dia dois são importantes porque são ocasiões em que a gente consegue separar um tempo  para falar o que é o autismo, levar as informações de qualidade para o público. Porque, uma vez conhecendo o que é, a gente consegue reduzir aqueles preconceitos, aquelas ideias equivocadas sobre o que é o autismo. Infelizmente, as pessoas ainda pouco conhecem. Os pais de crianças com autismo, muitas vezes, passam por dificuldades, especialmente, em locais públicos, quando, por exemplo, uma criança está tendo alguma crise, alguma dificuldade de se comunicar, de se expressar, que é típico do quadro e, aí, muitas vezes as pessoas podem olhar e achar que os pais não educam as crianças direito. Mas, na verdade, é uma dificuldade da criança.