A Santa Casa de Campo Grande atravessa uma crise financeira que não é novidade para quem acompanha o hospital há anos, mas que agora atinge níveis alarmantes.
Segundo Lázaro Santana, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Áreas de Enfermagem do MS (Siems), a situação é marcada por um descaso histórico de gestores municipais e estaduais, com o município – responsável pela saúde dos cidadãos – sendo apontado como o menos empenhado em resolver o problema.
“Troca gestor municipal, troca gestor estadual, e as coisas continuam na mesma”, critica Lazaro.
A instituição, que já passou por uma intervenção há mais de dez anos, viu sua dívida explodir e os salários atrasarem durante aquela gestão compartilhada entre prefeitura e estado. Hoje, a realidade não é muito diferente. Lençóis, materiais de higiene, insumos básicos como curativos e até suportes de soro estão em falta, deixando a enfermagem – que atua 24 horas junto aos pacientes – em uma posição insustentável.
“É absurdo. Não tem lençol pra colocar no leito, e o paciente fica sem trocar roupa por dias”, relata Lázaro.
A superlotação agrava o quadro. Pacientes seguem sem leitos ou cadeiras no pronto socorro, enquanto médicos registraram boletim de ocorrência denunciando riscos de morte por falta de materiais para cirurgias.
Para Lázaro, a culpa recai sobre os enfermeiros, que lidam diretamente com as reclamações. “Tudo sobra pra gente, mas não temos como fazer mágica”, desabafa.
Cerca de 20% dos problemas relatados são enfrentados passivamente pelos profissionais, que se veem sem respaldo ou recursos.
O sindicalista aponta que a crise já foi discutida com o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Estadual e a Câmara de Vereadores, mas nenhuma solução concreta surgiu. “Todo mundo sabe, mas ninguém age”, diz.
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A possibilidade de uma manifestação ganha força entre os trabalhadores, que temem novos atrasos salariais.
“Se não tem dinheiro pro básico, como vamos confiar que o salário vem?”, questiona.
Nos últimos meses, mobilizações já foram feitas para pressionar a instituição a pagar os funcionários, que dependem exclusivamente desses valores.
A Santa Casa, que atende mais da metade dos casos graves da região, segue à deriva enquanto as autoridades públicas são cobradas por compromisso.
“Não dá pra protelar mais um problema que já dura anos”, alerta Lazaro, destacando a responsabilidade civil da enfermagem, que não quer ser penalizada por falhas fora de seu controle.