O mercado da soja enfrenta um cenário de incertezas, impulsionado pela demanda chinesa e pela guerra comercial entre China e Estados Unidos. Segundo o analista de mercado Ronaldo Fernandes, entrevistado no programa Agro é Massa desta terça-feira (25), os preços da soja podem sofrer pressão a partir de abril, quando grandes volumes do grão começarão a chegar aos portos chineses.
“A China tem comprado muitos volumes do Brasil, e isso tem ajudado a sustentar os preços”, explicou Fernandes. No entanto, ele alerta que esse suporte deve perder força. “A partir de abril e maio, essa soja desembarcada começará a abastecer as fábricas chinesas, o que pode derrubar os preços internos por lá e impactar os nossos prêmios.”
Impacto da guerra comercial
Além da questão da oferta, o cenário político também influencia o mercado. Fernandes destacou a recente proposta de Donald Trump de multar navios chineses, o que poderia beneficiar as exportações brasileiras.
“Navios operados por companhias chinesas podem ser multados em um milhão de dólares, e os fabricados na China, em um milhão e meio. Se isso for adiante, a China pode buscar mais soja no Brasil”, avaliou.
No entanto, ele pondera que a retaliação chinesa pode atingir setores estratégicos dos EUA. “A China pode restringir importações de indústrias específicas, como frigoríficos, ou até mesmo mirar em cooperativas de produtores”, disse.
Relação entre soja e milho
Outro fator de atenção para os produtores brasileiros é a relação entre os preços da soja e do milho. Atualmente, a paridade está em 1,5 saca de milho para cada saca de soja, um índice atípico. “Ou o milho está muito valorizado, ou a soja está desvalorizada”, afirmou Fernandes.
Com a proximidade do 30 do 4, período em que muitos produtores decidem entre vender milho ou segurar soja, ele alerta para um possível impacto no mercado. “Temos pouco milho disponível, mas a oferta pode parecer maior do que realmente é, o que já está pressionando as cotações na B3”, explicou.
Diante desse cenário, Fernandes recomenda cautela. “O momento exige atenção. Se o produtor precisar fazer médias, esta semana ainda é uma boa oportunidade. Depois, os preços devem ceder”, concluiu.
Confira a entrevista completa: