Teve início na manhã desta quarta-feira (4), no Tribunal do Júri do Fórum Cível e Criminal de Campo Grande, o julgamento da mãe e do padrasto da menina Sophia O’Campo, de apenas 2 anos, que morreu no dia 26 de janeiro de 2023. O caso chocou o país no ano passado e o julgamento é um dos mais aguardados dos últimos tempos, após ter sido adiado duas vezes. Stephanie de Jesus e Christian Campoçano respondem por homicídio praticado de maneira cruel e por motivo fútil, além de Christian responder por estupro e Stephanie, por omissão.
O técnico de enfermagem e pai biológico de Sophia, Jean Carlos O’Campo, esteve presente no fórum junto de familiares e relatou o que espera do julgamento após mais de um ano de espera.
“Eu tô aqui pela Sophia. Eu coloquei minha dor de lado, coloquei as minhas ansiedades de lado e vim aqui lutar pela justiça por ela. Espero que a justiça seja feita, que eles olhem por ela. Esse é o meu desejo, do Igor e de todos que amam a Sophia“, disse, emocionado.
A primeira manhã do julgamento foi marcada por um atraso de quase duas horas para o início dos trabalhos e pela dispensa de testemunhas. Duas das 12 pessoas que seriam ouvidas no plenário foram dispensadas e, das 10 restantes, três falaram durante a manhã: uma de defesa e duas de acusação.
Até o meio-dia, testemunharam Cibele Amaral Pires, amiga de Stephanie e madrinha de consideração de Sophia; Babington Viana, investigador da polícia civil que fez parte da equipe que atendeu à ocorrência após a chegada de Sophia já sem vida à UPA Coronel Antonino e realizou, inclusive, a condução de Christian para prestar depoimento na delegacia; e Fabrício Sampaio de Paiva, médico legista da polícia civil, autor do exame necroscópico de Sophia.
A pedido dos advogados de Stephanie, a primeira testemunha foi Cibele Amaral Pires. Ela contou que tinha amizade com a mãe de Sophia há pelo menos cinco anos, após trabalharem juntas em 2018. Segundo ela, Stephanie amava Sophia, sofreu após o término com o pai da menina, Jean Carlos, e mudou o comportamento após o início do relacionamento com Christian.
“Sophia era uma criança que foi planejada e muito amada pela família. […] A Stephanie que eu conhecia não permitiria que a filha fosse morta. […] Após ficar com Christian, ela ficou mais afastada, não conversava mais comigo, parou de responder mensagens. Notei que ela ficava mais deprimida“, declarou Cibele.
Na sequência, o investigador da polícia civil, Babington Viana, deu mais detalhes sobre o momento da prisão de Christian e sobre o que teve conhecimento na noite em que atendeu à ocorrência.
“A médica me relatou que a mãe não apresentou nervosismo e falou que a filha estava passando mal quando chegou na unidade. Segundo o relato da médica, ela permaneceu calma até o momento em que foi informada de que chamariam a polícia. […] Quando fomos atrás de Christian, ele já nos esperava com a mãe. Ele disse que já sabia que iríamos ao encontro dele. Estava bem tranquilo e até dormiu na viatura. No trajeto até a delegacia, ele falava sozinho que queria se matar e que não era um bom pai“, relembrou o investigador.
A última testemunha foi o médico legista da polícia civil, Fabrício Sampaio de Paiva, que reafirmou diversas vezes o resultado exposto no laudo: “Sophia já estava morta quando chegou ao hospital, levada pela mãe. […] Essa morte ocorreu horas antes, mas não é possível precisar o horário exato devido a vários fatores“.
Ainda de acordo com o laudo de necropsia do corpo de Sophia, emitido pelo Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL), a causa da morte foi um traumatismo na coluna cervical, além de confirmação de que a menina sofreu violência sexual “não recente“.
Durante a tarde e noite desta quarta-feira, outras sete testemunhas ainda serão ouvidas. A expectativa é que os réus também sejam ouvidos hoje, logo após os depoimentos das testemunhas.
“Temos ainda uma jornada grande na parte da tarde. Eu acredito que, lá pelas 19h, deve encerrar hoje, até as 20h, com os depoimentos de todos. E o resto da programação vai ter que ficar para amanhã: os debates. Não tem como exigir dos jurados hoje, que estão o dia todo aqui aguardando e ouvindo. O cansaço para avançar à noite é muito difícil. Amanhã continuamos os trabalhos“, disse o juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara, que preside o julgamento.
Conforme a programação, nesta quinta-feira (5) serão realizados os debates entre acusação e defesa, o que deve ocupar o dia todo, e, por fim, ocorre a votação dos quesitos e a sentença. Quatro homens e três mulheres compõem o corpo de jurados.