Quem olha para o mapa de Campo Grande, percebe uma semelhança entre três regiões urbanas que estão lado a lado no sul da cidade. Lagoa, Anhanduizinho e Bandeira são as regiões mais populosas da Capital e concentram 490.240, do total de 898.100 moradores. É mais da metade da população.
Os últimos dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, no período de 2010 a 2022, a região do Anhanduizinho, que conta com bairros como Aero Rancho, Guanandi, Jockey Club e Pioneiros, cresceu cerca de 17,76% e se manteve como a mais populosa, com 218.555 habitantes.
A mudança no ranking ficou por conta da região Bandeira, que contempla bairros como Moreninhas, Rita Vieira, Tiradentes e Universitário, e teve o maior crescimento nesse período, saindo de 113.118 para 136.691 moradores. Um aumento de 20,84%.
É verdade que a cidade e o estado também cresceram nesse período e impactam no número expressivo dessas regiões, como explica Marcelino Gonçalves, professor de geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).
“Se a gente pegar o censo brasileiro, no período de 2010 a 2022, a gente tem um crescimento de 6,5% da população brasileira. Em Mato Grosso do Sul, um crescimento de 12,56% nesse mesmo período. No caso de Campo Grande, da cidade especificamente falando, a gente tem um crescimento de 19%. Então, média de crescimento na cidade é três vezes mais do que a média de crescimento nacional. Quer dizer, a população cresceu na cidade e ela tem que ficar em algum lugar. Isso pressiona o movimento de distribuição dessa população na base territorial”.
E essa hipótese leva a uma consequência que também ajuda a explicar esse cenário: A construção de moradias. “Uma questão importante, no caso das hipóteses, são as políticas de construção de moradias. Tanto aquelas moradias populares construídas pelo governo, seja municipal, estadual ou federal, como aquelas que são resultados de empreendimentos particulares. Empresas que trabalham na construção de moradias. É possível perceber só de olhar na paisagem urbana da cidade, um número de edifícios, prédios que foram construídos nesse período, nos últimos dez anos.”
É em um desses empreendimentos, no bairro Pioneiros, que mora a estudante Gabriela Quinteiro. A jovem veio à Campo Grande para cursar economia na UFMS e mora em um condomínio residencial. Pesou na escolha, a infraestrutura que a região oferece.
“Eu queria algum lugar que fosse próximo à faculdade e que também tivesse uma grande facilidade em comércio, em mercado, posto de gasolina. Que tudo fosse próximo e de uma forma acessível. Por isso que eu escolhi esse bairro. Por ter as coisas todas necessárias muito próximas, e também ser muito próximo da faculdade, que é o principal motivo de eu estar morando em Campo Grande”.
E ela não é a única nessa situação. Segundo dados fornecidos pela UFMS, 203 alunos do campus da Capital recebem Auxílio Moradia, um benefício financeiro para estudantes que residiam fora de Campo Grande e vieram estudar na Cidade Morena.
Diferente de Gabriela que chegou a pouco tempo em uma região onde a infraestrutura já estava consolidada, o Auxiliar de Almoxarifado, Carlos da Silva mora há 40 anos no Núcleo Habitacional Universitárias, que fica na região Bandeira. O morador destaca a evolução do bairro ao longo desses anos.
“Ali no Campo Nobre, por exemplo, não existia nem ponte para passar para o lado de lá. Ali para o lado do Bálsamo. Então eu vi aquela região toda crescer, ali para o lado do Jardim Los Angeles, Jardim das Meninas, Centro-Oeste, aí depois foi criado ali o Ramez Tebet também. Está crescendo a região”. Segundo Carlos, a região oferece tudo o que ele precisa, desde a infraestrutura, até o comércio. “Tem farmácia, mercado, lotérica, lojas de roupa. Tem tudo que a gente precisa”.
Na contramão do crescimento nas regiões periféricas, a região central de Campo Grande perdeu 15% da população entre 2010 e 2022.