O secretário estadual de Educação de Mato Grosso do Sul, Hélio Daher, avalia que a redução de mais de 60% nas matrículas da Educação de Jovens e Adultos (EJA) nos últimos dez anos é reflexo direto de políticas voltadas à correção da distorção idade-série.
Segundo ele, a queda aponta para uma mudança estrutural e desejada no sistema educacional.
“Temos que lembrar que a EJA é um termômetro da falha histórica que o Brasil tem em garantir que os estudantes cumpram sua escolaridade no tempo certo. Com o tempo, e especialmente na última década, Mato Grosso do Sul vem adotando uma série de programas para reduzir essa necessidade”, afirmou durante entrevista ao programa Microfone Aberto.
De acordo com o Censo Escolar, o número de matrículas na EJA no estado caiu de 43.886 em 2014 para 17.185 em 2024. No mesmo período, o total de escolas que oferecem essa modalidade também recuou, passando de 301 para 190.
Daher explicou que as turmas da EJA são abertas sob demanda, o que permite uma concentração em menos escolas. Segundo ele, a ampliação da oferta via ensino a distância (EAD), desde 2023, também contribuiu para essa reestruturação.
“Hoje temos centros em Campo Grande e Dourados que oferecem EAD para estudantes de outros municípios, o que reduz custos sem perder qualidade”, disse.
Atendimento especializado e crescimento nas matrículas
Durante a entrevista, o secretário também comentou o crescimento expressivo das matrículas na educação especial no estado, que aumentaram 71,78% na última década, segundo dados do MEC.
Daher credita esse salto à maior confiança das famílias no ensino público e à evolução nos diagnósticos realizados por profissionais da saúde e da educação. “Hoje, os laudos são mais precisos, e há mais clareza na hora de identificar a necessidade do atendimento especializado. Isso também tem ampliado o registro correto dessas condições nas matrículas escolares”, explicou.
O secretário destacou que o Estado conta com seis centros especializados que oferecem estrutura para diferentes tipos de deficiência — incluindo autismo, surdez e deficiência visual — e apoio às escolas com equipamentos, formação e orientação.
Também há professores especializados atuando diretamente com os alunos, além de profissionais de apoio para casos de comprometimento motor ou necessidades específicas, como locomoção e alimentação.
“A gente estimula a independência do estudante. O professor está ali para contribuir com a aprendizagem, mas também para ajudar o aluno a desenvolver autonomia”, disse.
Investimentos e parcerias
Hélio Daher também destacou os investimentos em parcerias com instituições como APAEs e Pestalozzi, que são responsáveis por parte significativa do atendimento à população com deficiência no estado.
Na semana anterior, o governo estadual anunciou aumento de 5% no repasse de convênios com essas entidades.
Segundo ele, o foco da gestão é garantir estrutura, capacitação e continuidade dos serviços. “O Estado tem conseguido atender com qualidade, inclusive melhor do que muitas escolas particulares, e por isso os pais estão mais seguros em colocar seus filhos na rede pública”, avaliou.