Ninguém tinha dado uma justificativa plausível e convincente para o ex-presidente Jair Bolsonaro abandonar, de uma hora para outra, o apoio à reeleição da prefeita de Campo Grande pela candidatura do deputado federal Beto Pereira (PSDB). Mas agora está clara a razão principal dessa mudança repentina do ex-presidente.
A prioridade de Bolsonaro é a eleição de um senador, em 2026. Ele aproveita as alianças das eleições municipais para construir o seu projeto de eleger senadores em todos os estados para enfrentar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mais do que nunca, o ex-presidente tem dito que só uma grande bancada no Senado pode lhe dar força nessa guerra particular com o seu algoz no STF.
Mas a aliança com o PP, também, poderia ajudá-lo na eleição de um senador. Lá já tem a senadora Tereza Cristina, chefona do partido e ex-ministra da Agricultura de Bolsonaro. Só que, na avaliação do entorno do ex-presidente, a aliança com o PP não acrescentaria em nada na eleição de um senador. Já caminhando ao lado do PSDB, as chances de eleger um senador são bem maiores, porque contará com o peso político e eleitoral do governador Eduardo Riedel (PSDB), que estará disputando a reeleição.
E o PP deverá estar nessa aliança com o PSDB na reeleição de Riedel.
Outra vantagem é o PL fazer aliança na chapa de senador. O indicado faria dobradinha com Azambuja. Neste caso, o senador Nelsinho Trad (PSD), que sacrificou alguns candidatos a prefeito, para ganhar espaço na chapa do PSDB, em 2026, vai ter que ser candidato avulso à sua reeleição.
Esse acordo foi costurado pelo senador Rogério Marinho (PL-RN) diretamente com o ex-governador Reinaldo Azambuja, presidente regional do PSDB. Só depois de todos os detalhes acertados, Bolsonaro entrou na jogada para bater o martelo.
Não é à toa que Bolsonaro impediu o ex-deputado estadual Capitão Contar (PRTB) de ser vice da prefeita Adriane Lopes (PP). Contar é uma das opções dele para o Senado e, então, não poderia deixá-lo com Adriane para prejudicar a eleição do Beto Pereira. O Capitão acabou dizendo "não" para Adriane. Ele também foi sondado para ser vice da Rose Modesto (União Brasil). Mas o ex-presidente barrou, também, essa aliança.
Bolsonaro pagou um preço alto para fechar esse acordo para 2026. Ele arrumou encrenca no PL colocando muitos pré-candidatos na guilhotina. Essa aliança com os tucanos se estende em mais 36 municípios do Estado.
Bolsonaro tem dito aos seus seguidores que precisa de senadores para apoiar o impeachment de Alexandre de Moraes. Hoje, o PL e seus aliados não têm força para bater de frente com Moraes, porque há uma muralha no caminho que se chama Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Como presidente do Senado, ele engaveta todos os pedidos de impeachment de Alexandre de Moraes. E se os bolsonaristas conseguirem eleger uma grande bancada, vão tentar eleger o presidente do Senado com coragem para assinar a abertura do processo de impeachment do ministro do STF.